Título: A união faz a força
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 01/03/2005, Internacional, p. A8

A queda do gabinete pró-sírio no Líbano não é um caso isolado na história recente de participação popular na derrubada de um governo. Em novembro, milhares de pessoas se concentraram nas ruas de Kiev para exigir a anulação do segundo turno das eleições presidenciais que, fraudadas, tinham dado vitória ao candidato pró-russo. A ''Revolução Laranja'', como ficou conhecida, levou a um novo pleito e a proclamação da vitória do candidato próximo do Ocidente.

Assim como ucranianos se reuniram em Kiev, dezenas de milhares de representantes da oposição libanesa se manifestam no Monumento aos Mártires, a alguns metros do túmulo do ex-premier Rafik Hariri, morto em um atentado atribuído à Síria. No local, cerca de 150 jovens jovens armaram tendas e prometem não sair até que os 14 mil soldados sírios tenham deixado o Líbano. Em Beirute, os manifestantes vestem xales vermelhos e brancos, as cores da bandeira, que se tornou símbolo da campanha de pressão para a renúncia de todo o governo apoiado por Damasco.

- Os sírios não podem ignorar esta multidão, isso certamente provocará a retirada. Não precisamos de armas para conseguir nossa independência - bradou o opositor Rene Klat, no comício de ontem.

Até agora, os protestos foram pacíficos. De fato, o elemento mais impressionante é a diversidade dos manifestantes, de estudantes a banqueiros, e cruza linhas sectárias com cristão maronitas (católicos) subindo nos ombros de muçulmanos sunitas e de drusos (maometanos).

- Não temos mais medo - afirma Fadi Romanos.

Para Sami Nasrallah, que mora no Vale do Bekaa (Norte), a viagem para chegar à Praça dos Mártires leva três horas, mas vale a pena.

- Este é o verdadeiro espírito libanês -diz, mostrando a multidão animada.

Nos bastidores, trabalham centenas de jovens ativistas dos principais grupos de oposição. Eles se encontram várias vezes por dia, para planejar os próximos passos. No domingo, o governo proibiu a manifestação pública de ontem, mas a ordem não foi acatada. Armados de telefones celulares, os opositores usaram mensagens de texto para divulgar mudanças de último minuto nos protestos e para burlar os bloqueios a estradas, feito pelo Exército.

A técnica já tinha sido usada em 2001 nas Filipinas, quando uma gigantesca manifestação foi rapidamente organizada e levou à queda do presidente Joseph Estrada.