Título: População força renúncia de premier
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Fonte: Jornal do Brasil, 01/03/2005, Internacional, p. A8

Presidente, também pró-sírio, aceita demissão, mas oposição garante que protestos continuam até saída de todo o governo

BEIRUTE - Pressionado pela manifestação que reuniu 25 mil pessoas nas ruas de Beirute, o primeiro-ministro do Líbano, pró-sírio Omar Karimi, anunciou ontem ao Parlamento que se demite. A renúncia foi aceita pelo presidente, Emile Lahoud, que pediu que o premier fique no cargo ''até a posse de um novo Executivo''. Também pró-sírio, Lahoud está na origem da crise política. Foi a ampliação de seu mandato, sob pressão de Damasco, que há seis meses levou à renúncia de Rafik Hariri, predecessor de Karami assassinado no dia 14, em um atentado a bomba que a oposição atribui à Síria.

- Mostrei boa intenção, mas as acusações contra mim alcançaram um nível de injustiça que não posso suportar. Quando Baahia Hariri (irmã de Hariri) pediu a demissão do governo, vi que o diálogo ao qual convido não é possível - justificou o chefe do Executivo. - Para evitar que o governo se torne um obstáculo para o bem do país, apresento a demissão do meu gabinete.

A oposição denuncia que o Executivo de Karimi e a rede de serviços secretos sírios planejaram o atentado contra o ex-premier, pela aliança de Hariri com grupos libaneses que se opõem à dominação de Damasco. Além disso, o regime sírio mantém 14 mil soldados em território libanês.

Nas ruas, os opositores comemoraram a renúncia, mas garantiram que os protestos continuam, ''até a retirada total da Síria do Líbano''.

- A batalha é longa e esse é o primeiro passo. É uma batalha pela liberdade, soberania e independência - afirmou o líder Ghattas Khouri.

Na manhã de ontem, milhares de pessoas desafiaram a proibição imposta por Karimi no domingo e realizaram o protesto no centro de Beirute, no momento em que o Parlamento dava início a um debate, convocado pela oposição, sobre responsabilidades pelo assassinato do ex-premier e de outras 13 pessoas que morreram na explosão. Bancos, escolas e lojas ficaram fechados, atendendo ao pedido de greve geral. Barricadas de metal e arame farpado isolaram o local do protesto e os arredores do Parlamento, vigiado por soldados libaneses.

Postos de controle em estradas para Beirute impediram a entrada de carros e ônibus com pessoas que se dirigiam à capital para participar do ato. Mas os soldados não agiram contra os manifestantes, que se reuniram desde o domingo à noite na Praça dos Mártires, perto do local da sepultura de Hariri. Eles permitiram que pequenos grupos aderissem ao protesto, apesar da proibição oficial.

Ativistas da oposição instalaram telões para os manifestantes assistirem à sessão do Parlamento, na manhã de ontem. Alto-falantes transmitiam cantos patrióticos.

Os Estados Unidos classificaram a renúncia de Karimi como uma ''oportunidade de eleição de um novo governo que represente a diversidade do país''.

- Acredito que este processo será livre de intervenção estrangeira - afirmou o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan.

Segundo McClellan, Damasco deve cumprir as resoluções do Conselho de Segurança da ONU:

- Isso quer dizer que as forças militares sírias e os agentes da Inteligência precisam sair do Líbano. Este movimento ajudaria na realização de eleições livres e justas.

Ontem, autoridades de Israel se reuniram com embaixadores da União Européia para provar a participação da Síria no atentado em Tel Aviv, na sexta. A Inteligência descobriu que a ordem veio do escritório da Jihad Islâmica em Damasco, que o governo assegurava já ter fechado.