O Estado de São Paulo, n.46358, 19/09/2020. Internacional, p.A18

 

Morre juíza ícone dos direitos da mulher nos EUA

Beatriz Bulla

19/09/2020

 

 

Morte de Ruth Bader Ginsburg, aos 87 anos, pode desatar guerra entre republicanos e democratas pela nomeação de um substituto

CORRESPONDENTE / WASHINGTON

Ícone dos direitos das mulheres nos Estados Unidos, a juíza da Suprema Corte americana Ruth Bader Ginsburg morreu ontem aos 87 anos. Desde o início da carreira, a trajetória de Ginsburg, ou RBG, como ficou conhecida, esteve ligada ao fim da discriminação contra mulheres. Segundo a Suprema Corte, ela morreu em Washington, cercada por parentes, em decorrência de complicações de um câncer no pâncreas.

Em um declaração ditada à sua neta, Clara Spera, dias antes de morrer, Ginsburg afirmou que desejava "fervorosamente" não ser "substituída antes que um novo presidente seja eleito". Agora, Donald Trump poderá nomear mais um juiz para a Suprema Corte, que já tem composição majoritariamente conservadora.

Ginsburg foi a segunda mulher a ocupar uma das nove cadeiras no mais alto tribunal dos EUA, em Washington, nomeada pelo democrata Bill Clinton. Antes, ela liderou a luta pelos direitos femininos na ACLU, uma das mais importantes associação de direitos civis do país, para derrubar leis que discriminavam mulheres com base em gênero.

Nos últimos anos, RBG atraía atenções de uma popstar. Ela teve a vida e carreira retratadas em um documentário e em um filme e costumava lotar auditórios com uma legião de mulheres, advogadas, estudantes e ativistas. O rosto de RBG estampa camisetas e artigos de lojas feministas nos Estados Unidos.

Com a morte de Ginsburg, republicanos e democratas devem travar uma guerra no Congresso. Em 2016, após a morte do magistrado conservador Antonin Scalia, o presidente Barack Obama teria o direito de nomear um magistrado para a Suprema Corte.

Guerra. O Senado, no entanto, dominado pelos republicanos, ignorou a prerrogativa de Obama com o argumento de que o substituto de Scalia deveria ser decidido nas urnas. Na ocasião, o líder dos republicanos, o senador Mitch Mcconnell, se recusou a aceitar a indicação do juiz Merrick Garland, dizendo que não haveria nomeações em ano eleitoral.

Diante dos problemas de saúde de Ginsburg, no entanto, Mcconnell mudou de opinião e já reafirmou diversas vezes que Trump teria direito a indicar um nome – mesmo em ano eleitoral. Como os democratas não têm maioria no Senado, não há muito o que possam fazer para impedir a manobra.

Especialistas acreditam que é preciso cerca de dois meses para que um nome indicado pelo presidente seja sabatinado e aprovado pelo Senado, o que poderia acontecer logo depois da eleição, em 3 de novembro.

Legado

"Meu desejo mais fervoroso é não ser substituída antes de um novo presidente ser eleito"

Ruth Bader Ginsburg

JUÍZA DA SUPREMA CORTE DOS EUA

"Nós da Suprema Corte perdemos uma colega querida. Hoje, lamentamos, mas com a confiança de que as gerações futuras se lembrarão de Ruth Bader Ginsburg como a conhecemos, uma incansável e resoluta defensora da Justiça"

John Roberts

PRESIDENTE DA SUPREMA CORTE