Correio braziliense, n. 21031, 23/12/2020. Política, p. 4

 

Republicanos acredita em "idoneidade"

Ingrid Soares 

23/12/2020

 

 

Partido do prefeito Marcelo Crivella, que está em prisão domiciliar, acusado de chefiar o "QG da Propina" no Executivo carioca, o Republicanos saiu em defesa do político. Em nota, a legenda presidida pelo deputado federal Marcos Pereira (SP) disse acreditar na "idoneidade" de Crivella e critica o que classifica de "judicialização da política".

"A Executiva Nacional do Republicanos aguarda detalhes e os desdobramentos da prisão do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. O partido acredita na idoneidade de Crivella e vê com grande preocupação a judicialização da política", diz a nota da legenda.

O Republicanos é um dos partidos aliados ao governo Bolsonaro. O próprio Crivella foi apoiado por Bolsonaro e sua família em sua tentativa frustrada de reeleição. A sigla abriga atualmente o vereador carioca Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro, ambos filhos do presidente.

O Palácio do Planalto, porém, nega que o apoio de Bolsonaro a Crivella tenha impacto político na imagem do mandatário. Na mesma linha, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que a prisão do prefeito não atinge o governo. O general minimizou a questão. "Isso aí é questão policial, segue o baile aí, investigação, e acabou", afirmou.

Apesar do aval de Bolsonaro a Crivella nas eleições municipais, Mourão disse que "no governo, não tem impacto nenhum". "Não tem nada a ver com a gente. Sem impacto, zero impacto. A gente apoia tanta candidatura aí, não tem nada a ver", rebateu.

Férias
Bolsonaro, por sua vez, está em férias em Santa Catarina. Ele não comentou diretamente sobre a prisão do aliado. No entanto, voltou a postar, na tarde de ontem, um vídeo de um gigante de pedra que tenta salvar sua vila, mas é injustiçado e atacado. O chefe do Executivo não foi explícito sobre a referência, mas a publicação foi feita no mesmo dia da detenção de Crivella.

Na avaliação do cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a questão principal da prisão de Crivella é que afasta de Bolsonaro a possibilidade de filiação ao Republicanos. Há, ainda, um simbolismo especial porque é o partido que acolhe dois dos filhos do presidente.

"Crivella abala a possibilidade de Bolsonaro ir para o partido. Além disso, esses fatos serão lembrados por adversários em 2022. Eles já têm guardado a coleção de fracassos de Bolsonaro no apoio político desses anos, assim como frases polêmicas sobre a pandemia", afirmou. "Esse é mais um elemento que se agrega a uma narrativa de confronto para adversários na corrida presidencial."

Ao contrário do que declarou Mourão, Prando vê impacto político, sim, para o governo. "Em política, fotos, vídeos, imagens e apoios são sempre lembrados em momentos positivos, mas também são destacados por adversários num revés como esse", disse.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), comentou a prisão preventiva de Crivella antes de o Superior Tribunal de Justiça (STJ) transformá-la em domiciliar. Para o parlamentar, a detenção foi abusiva e mais um episódio de criminalização da política. "O prefeito tem endereço fixo, podia continuar sendo investigado mesmo sem a prisão." (Com Agência Estado)

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Suspeita de R$ 6 bi lavados em igreja

Renato Souza 

23/12/2020

 

 

O Ministério Público do Rio de Janeiro aponta movimentações suspeitas de R$ 6 bilhões na Igreja Universal do Reino de Deus no estado. As suspeitas surgiram durante as investigações contra a organização criminosa que seria chefiada pelo prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). Relatórios de inteligência financeira indicaram as transações.

Crivella é acusado de integrar um esquema criminoso que consistia no repasse de propina de empresários. Os pagamentos ocorriam para que os executivos obtivessem vantagens em contratos públicos e no pagamento de dívidas.

Na denúncia oferecida à Justiça, à qual o Correio teve acesso, na íntegra, o Ministério Público suspeita que a instituição religiosa foi utilizada para lavar dinheiro. "E, ainda, com relação à lavagem de dinheiro, chamam a atenção as estreitas relações religiosas mantidas entre o Prefeito Marcelo Crivella, Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus; Mauro Macedo, primo do fundador da referida Igreja; e Eduardo Benedito Lopes, Bispo da mesma Igreja, em cotejo com o Relatório de Inteligência Financeira nº 42.938, mediante o qual foi identificada e comunicada movimentação financeira anormal no âmbito daquela instituição religiosa, na ordem de quase seis bilhões de reais no período compreendido entre 05/05/2018 e 30/04/2019, o que sugere a indevida utilização da Igreja na ocultação da renda espúria auferida com o esquema de propinas, até porque, como já observado, Mauro Macedo e Eduardo Benedito Lopes, ao lado de Rafael Alves, foram identificados como os operadores financeiros do grupo criminoso, ocupando, por assim dizer, o chamado '1º escalão'", afirma o MP.

As investigações foram feitas a partir de dados de instituições financeiras e de mensagens trocadas pelos investigados por e-mail e outras formas de comunicação. Esta foi a quarta etapa das apurações. Nas fases anteriores, foram apreendidos celulares e computadores que subsidiaram as diligências.
Crivella é sobrinho do bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal, uma das maiores instituições religiosas do país. O prefeito era identificado pelo nome de "Zero Um" em mensagens trocadas por WhatsApp pelos integrantes do grupo criminoso, de acordo com o Ministério Público. O Correio procurou a Igreja Universal para comentar o caso, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.