Correio braziliense, n. 21032, 24/12/2020. Economia, p. 6

 

Desemprego atinge mais jovens

Vera Batista 

24/12/2020

 

 

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação chegou a 14,2%, a maior da série histórica da pesquisa (PnadCovid), iniciada em maio. São 14 milhões sem trabalho no país (em outubro, foram 13,8 milhões; em maio, 10,1 milhões). Desde maio, o contingente de desempregados cresceu 38,6% — e 2%, em relação a outubro. Os mais jovens foram os mais afetados. A taxa de desocupação ficou em 24,2% para aqueles de 14 a 29 anos; e foi menor para os que têm nível superior completo ou pós-graduação (6,7%).

Entre as mulheres, a taxa foi de 17,2%; dos homens, 11,9%. Por cor ou raça, cresceu mais para aqueles de cor preta ou parda (16,5%) do que para brancos (11,5%). "Esse aumento da população desocupada ocorreu, principalmente, na região Nordeste. Nas demais regiões, ficou estável, sendo que no Sul houve queda na desocupação", disse Maria Lucia Vieira, coordenadora da pesquisa do IBGE. Por outro lado, a PnadCovid aponta que a população ocupada também aumentou. Subiu para 84,7 milhões, alta de 0,6% em relação a outubro (84,1 milhões); e, pela primeira vez desde o início da pesquisa, a população ocupada foi superior à de maio (84,4 milhões).

O nível de ocupação ficou em 49,6%, ou seja, menos da metade da população em idade para trabalhar estava ocupada, informou o IBGE. Com isso, houve aumento na força de trabalho — soma da população ocupada e a desocupada — para 98,7 milhões de pessoas. A população fora da força reduziu para 72 milhões. "A população ocupada aproximou-se do patamar de março, apesar da taxa de desocupação maior. Isso porque temos mais pessoas pressionando o mercado de trabalho em busca de uma ocupação. Esses números refletem a flexibilização das medidas de distanciamento social, com mais pessoas, mês a mês, deixando de estar fora da força de trabalho", afirmou Maria Lucia.

"Taxa positiva"
Para Alex Agostini, economista-chefe da Agência Austin Rating, de certa forma, "essa pode ser considerada uma taxa de desemprego positiva". "A tendência é de que o emprego melhore já em fevereiro ou março de 2021, mesmo que a taxa de ocupação fique mais alta. É a prova de que a atividade está começando a se aquecer e as pessoas estão saindo do desalento", reforça. O emprego tende mesmo a avançar, principalmente, porque, em janeiro as pessoas não vão mais poder contar com o auxílio emergencial, destaca o economista.

Quando a vacina contra a covid-19 for aprovada pelos órgãos de saúde, com a imunização da população, o setor de serviços, que vem patinando, deverá tomar força e se igualar ao desempenho de outros que engrenaram, como a construção civil, por exemplo, reitera Alex Agostini. Em novembro, informou o IBGE, a taxa de informalidade não se alterou em relação ao mês anterior (34,5%, o que corresponde a 29,2 milhões de pessoas). Norte e Nordeste seguem com as maiores taxas de informalidade, 49,6% e 45,2%, respectivamente.

Houve redução de 853 mil pessoas no contingente daqueles que gostariam de trabalhar e não procuraram trabalho por causa da pandemia ou por falta de vaga nos locais onde vivem (13,6 milhões). Dos 84,7 milhões de ocupados, 2,1 milhões, a menor quantidade da série, ainda estavam afastadas do trabalho em novembro. Em maio, eram 15,7 milhões. Já o total dos que estavam em trabalho remoto também caiu, para 7,3 milhões. "O indicador está em queda mais acentuada desde setembro, acumulando uma redução de 15,8% no número de pessoas em trabalho remoto desde maio", contou Maria Lucia.

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Governo avalia prorrogar acordos 

24/12/2020

 

 

O Ministério da Economia está avaliando a possibilidade de prorrogar, novamente, o programa que permite a realização de acordos de redução salarial e suspensão do contrato de trabalho. Os acordos atingiram 9,8 milhões de brasileiros na pandemia e, por enquanto, terminam no próximo dia 31. A possibilidade de prorrogação do Benefício Emergencial e Preservação do Emprego e da Renda (BEm) está em estudo pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho da pasta. Em seguida, será encaminhada para avaliação do ministro Paulo Guedes e do presidente Jair Bolsonaro.

"Estamos avaliando, de maneira criteriosa, se ainda há necessidade, se os setores ainda estão usando o benefício emergencial e se entendemos que ainda precisaria de uma prorrogação do BEm. (...) Estamos fazendo os estudos e levaremos ao ministro Paulo Guedes, que já está conosco analisando tudo isso, e também ao presidente da República, para que possamos deliberar em conjunto", afirmou, ontem, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco.

A prorrogação dos acordos vem sendo solicitada por empresários do setor de serviços, como o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci. Ele explicou que, mesmo antes das novas medidas de contenção da covid-19, 35% dos bares e restaurantes brasileiros já haviam fechado e 53% dos que voltaram a funcionar após a quarentena estão sofrendo prejuízos. "A situação só piorou depois de novembro. Se não tiver ajuda, não vamos conseguir pagar os funcionários", alertou Solmucci. (MB)