Correio braziliense, n. 21033, 25/12/2020. Política, p. 4

 

Novas lideranças rumo a 2022

Wesley Oliveira 

25/12/2020

 

 

Além de ter tido uma das eleições mais atípicas da democracia brasileira por causa da pandemia do novo coronavírus, o ano de 2020 também foi marcado pela ascensão e a pulverização de novas lideranças políticas. Em alguns casos, os personagens já tinham alguma notoriedade, mas conseguiram alçar novos voos.

No campo da centro-esquerda, Guilherme Boulos surgiu em São Paulo como um nome promissor. Depois de adotar um discurso mais moderado dentro de sua campanha para a prefeitura, o político do PSol agora tentará seguir construir alianças para adquirir musculatura em 2022.

Integrantes do partido resistem em falar de uma candidatura de Boulos para a Presidência, mas reconhecem que o nome dele passou a ter um peso maior. "Ele (Boulos) conseguiu costurar uma frente democrática muito significativa. Ainda é cedo para definir os candidatos para 2022, mas ele sai muito gabaritado como liderança nacional", afirma a líder do PSol na Câmara, Sâmia Bonfim (SP).

Candidaturas coletivas
Além da projeção de novos políticos, a campanha municipal também consolidou o movimento de candidaturas coletivas. Neste ano, mais de 250 tipos de candidaturas nesse modelo foram registradas na Justiça Eleitoral, das quais 17 se elegeram. Nesses casos, o vereador eleito compartilha as decisões que vai tomar na Câmara Municipal com um grupo de pessoas que participaram da campanha.

Tradicionalmente registradas nos partidos da esquerda, as candidaturas coletivas também começaram a migrar para as siglas de centro-direita. Neste ano, por exemplo, partidos como Podemos, PSL, PSDB, DEM e Patriota registraram mais de 20 campanhas coletivas.

Para Beatriz Della Costa, cientista social e diretora de pesquisas do Instituto Update, a movimentação dos mandatos coletivos muitas vezes se dá pela identificação de pautas de representatividade. Na sua visão, isso está se consolidando no Brasil e tende a seguir formando novas lideranças políticas no Brasil.

"O eleitor, principalmente o jovem, tem uma identificação maior com esses grupos. O discurso de que determinado político não me representa começou a se mudar pelo voto, e os mais novos estão começando a votar naqueles que lhe representam. Esses grupos são oriundos da sociedade civil, que já não aceita mais a política tradicional. Claro que vai ser um processo de construção, mas vejo que, aos poucos, irão ocupar mais espaços", defende Beatriz.

Criado há quatro anos, o Movimento Livres conseguiu eleger 12 novos candidatos, sendo um o prefeito de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, Caio Cunha (Podemos). O grupo tem como premissa o discurso da liberdade, promovendo o engajamento cívico e desenvolvimento de novas lideranças.

Segundo Paulo Gontijo, diretor-executivo do Livres, o próximo ano será para consolidar o trabalho desses novos políticos e com o objetivo de atrair mais pessoas interessadas em compor o grupo. "O nosso trabalho é formar lideranças, e não temos essa organização partidária em torno de um nome. Agora, vamos dar visibilidade para esses eleitos, no intuito de mostrar que tem como dar resultado", explica Gontijo.

Eleita deputada através de uma organização da sociedade civil, Tábata Amaral (PDT-SP), do movimento Acredito, afirma que o PT já não tem mais hegemonia na esquerda. "Nessas eleições, novas lideranças políticas do campo progressista, fora da órbita do PT, ganharam força. Foi um sinal claro de que o partido não é o único porta-voz da esquerda", defende.

Consolidação da direita

Forças políticas de direita também estão trabalhando. Ao todo, nove siglas da centro-direita, que surfaram na onda do conservadorismo de 2018, mantiveram a projeção de crescimento.

Mesmo com a desfiliação de Jair Bolsonaro, o PSL triplicou de tamanho em quatro anos, de 30 para 90 prefeituras até agora. Mas, nenhuma delas tem mais de 200 mil habitantes. A sigla bolsonarista Avante (ex-PT do B) passou de 15 para 80 (aumento de 433%), também em cidades pequenas. O Republicanos dobrou, de 104 para 208. O DEM cresceu 72%, de 265 para 465. O Solidariedade avançou 47%; e o Patriota, 45%. Além dessas siglas, também se observou um avanço do PP, PSD, Solidariedade, Patriota e PTB.

Para o professor e cientista político Valério Clemente, apesar de não terem tido um nome de grande projeção, esses partidos conseguiram ampliar suas margens de atuação. "Provavelmente chegaram mais organizados e, talvez, o Bolsonaro não irá surfar como única possibilidade no campo da direita em 2022. O trabalho deles será o de construir novos políticos nesse campo", afirma.