Correio braziliense, n. 21033, 25/12/2020. Cidades, p. 16

 

Um Natal diferente, para não esquecer

Luana Patriolino 

Ana Isabel Mansur 

25/12/2020

 

 

Em boa parte dos lares de Brasília, o Natal ocorreu de forma diferente, em 2020: pela internet e com muitas famílias separadas. Assim como o restante do ano, as celebrações foram atípicas. Como uma maneira de celebrar o feriado com segurança, os brasilienses repensaram, suspenderam ou substituíram as tradições. O formato deu espaço a novos jeitos de estar junto de quem se ama. Ainda que a distância.

Algumas famílias optaram por videoconferências, enquanto outras escolheram não reunir pessoas de fora da mesma casa. Houve, ainda, quem fizesse o jantar da noite natalina com menos pessoas, mas todas com máscara e usando, frequentemente, álcool em gel.

Com cuidados redobrados, os Mendes promoveram uma ceia, considerando a situação de Oton e Marilanda — patriarca e a matriarca da família —, de 91 e 80 anos, respectivamente. A comemoração reuniu 10 adultos e três crianças em um apartamento da Asa Sul. O grupo ficou dividido entre dois ambientes no momento da refeição: o casal de idosos comeu na cozinha; os outros ficaram reunidos na sala de estar. As janelas permaneceram abertas, para manter o ambiente ventilado. "Usamos máscaras, deixamos os sapatos do lado de fora ao entrar e higienizamos todas as embalagens e utensílios com álcool 70%", detalha a fotógrafa Déborah Mendes, 26 anos.

Os parentes de Curitiba, que se juntam ao restante da família todos os anos para celebrar o Natal, não vieram. A decisão de fazer uma reunião adaptada surgiu na semana passada: "Estamos tristes por não poder encontrá-los. Nós, daqui de Brasília, não queríamos fazer o jantar, até por proteção aos meus avós. Mas é (uma data) muito importante, e eles quiseram. Então, foi com todo o cuidado e atenção", completa Déborah.

Para a família Mendes, o feriado tem valor afetivo dobrado e não pode passar em branco. A pequena Pérola, prima de Déborah, veio ao mundo pouco depois da ceia natalina, há quatro anos. "Estávamos na sala, depois do jantar, e a mulher do meu tio entrou em trabalho de parto", conta a fotógrafa. "A gente comemora, desde então, o Natal e o aniversário dela (da prima)."

Amigo-oculto
E como garantir o amigo-secreto, que acompanha as festas de fim de ano há tantos anos? Na família do professor João Tadeu, 27, a tradição não ficou de lado. Divididos em grupos, eles fizeram a revelação por videoconferência. Mesmo pela internet, o clima animador marcou a celebração. "A gente sempre faz um Natal com essa brincadeira, a ceia — para a qual cada um traz um prato —, e todos nos abraçamos. Só que, por causa da pandemia, não reunimos a família toda de uma vez", justifica.

O Natal consciente da família ocorreu na sala da casa de João, em Sobradinho. O professor colocou como prioridade a saúde dos pais idosos — ambos com quase 68 anos. Os cuidados permaneceram os mesmos: nada de aglomeração, uso do álcool em gel frequente, higienização de itens da casa, além das roupas."Obviamente, ninguém quer ficar doente. Além disso, moro com meus pais e eles são do grupo de risco. Meu pai é diabético, hipertenso, tem problemas com a tireóide e outras doenças associadas à velhice", conta João.