Correio braziliense, n. 21034, 26/12/2020. Brasil, p. 5

 

"Não esperamos 90% de eficácia da CoronaVac"

26/12/2020

 

 

Ao contrário do reportado pelo governo da Turquia, no Brasil, a vacina CoronaVac não atingiu 90% de eficácia nos estudos de fase 3. A informação foi dada pelo secretário de Saúde do estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, na quinta-feira, durante entrevista à Rádio CBN, um dia após o Instituto Butantan indicar que não divulgaria os números de eficácia por questões contratuais. Ele reforçou que o imunizante atingiu o patamar mínimo exigido de 50%, mas não revelou o percentual alcançado pelo produto.

"Não esperamos 90% e 92% (eficácia), quando atingimos isso dizemos que bom que isso aconteceu. Se obtiver perfis menores nem por isso menos eficaz", afirmou Gorinchteyn.

Segundo especialistas, diversas explicações podem justificar a diferença entre um estudo e outro. "Existe uma série de razões metodológicas de porque um estudo feito em um país pode ter eficácia diferente de um feito em outra nação. Para poder dizer mais e ter mais consistência da razão pela qual parece haver uma diferença, precisamos dos dados detalhados", explica Victor Bertollo, infectologista do Hospital Anchieta de Brasília.

O intervalo entre a primeira e a segunda doses, a faixa etária dos participantes e as comorbidades presentes no grupo testado podem variar entre uma população estudada e outra, por exemplo. Segundo ele, todas são possíveis razões para justificar a diferença na eficácia.

Bertollo reforça que sem os dados publicados da eficácia da vacina, contudo, "só podemos especular. Precisamos, de fato, da descrição de como foi a metodologia do estudo, qual foi a população incluída, para poder levantar hipóteses mais precisas", sugere.

Uniformização
O infectologista ressalta que a compilação dos dados dos diferentes estudos é importante para uma melhor interpretação. Na última quarta-feira, o Instituto Butantan indicou que a farmacêutica chinesa Sinovac pediu que não houvesse a divulgação dos dados de eficácia da vacina no Brasil para fazer uma uniformização de dados, já que os estudos clínicos da CoronaVac ocorrem em diferentes lugares.

"Se estiver ocorrendo diferenças muito grandes de eficácia entre os países, por exemplo, eles precisam entender quais os fatores que levaram a isso", indica Bertollo. (MEC)