O Estado de São Paulo, n.46360, 21/09/2020. Política, p.A8

 

Bolsonaro vai rebater críticas na ONU

Jussara Soares

21/09/2020

 

 

Discurso de presidente deve insistir na tese de que questão ambiental é usada para perseguir o País; fala defenderá atuação na pandemia

Pressionado por organizações internacionais pelas queimadas recordes na Amazônia e no Pantanal, o presidente Jair Bolsonaro usará o discurso de abertura nos debates da 75.ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), amanhã, para rebater críticas de que o governo brasileiro segue inerte na questão ambiental. Bolsonaro, mais uma vez, deve afirmar que há uma perseguição contra o Brasil.

Em seu pronunciamento, o presidente também argumentará a favor da atuação de seu governo no enfrentamento à covid-19, que adotou diretrizes contrárias às recomendações de autoridades sanitárias. Bolsonaro tem repetido que o País, que registra mais de 136 mil mortes pelas doença, foi um dos que melhor enfrentou a crise.

A segunda participação de Bolsonaro na convenção ocorrerá de modo virtual por causa da pandemia do novo coronavírus. A fala é cercada de expectativa após uma estreia, no ano passado, considerada agressiva.

Depois de ajustes pedidos pelo presidente, o discurso foi gravado na última quarta-feira, e enviado no dia seguinte para a organização da Assembleia Geral.

O Estadão teve acesso a um texto preliminar com diretrizes para o pronunciamento de Bolsonaro.

Na tentativa de demonstrar que não está indiferente à questão ambiental, o líder brasileiro deve mencionar que ele mesmo designou o vice-presidente Hamilton Mourão para estar à frente do Conselho Nacional da Amazônia, citando "mobilização de recursos para controlar o desmatamento, combater atividades ilegais e o crime organizado na Amazônia".

Bolsonaro deve alegar ainda que o Brasil tem avançado na implementação da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável da ONU. No discurso, deve destacar que a preservação ambiental tem que seguir junto com o desenvolvimento econômico.

Projetos. A expectativa é que o presidente cite que o governo tem trabalhado para atrair financiamento para projetos na floresta para benefício das 20 milhões de pessoas que vivem na região. Bolsonaro deve enfatizar ainda a agricultura brasileira, que exporta para mais de 180 países, e pedir o fim de barreiras comerciais. No texto-base, o presidente argumenta que a eliminação de barreiras é necessária para alimentar bilhões de pessoas sem alimentos adequados.

O recorde de desmatamento na Amazônia tem afetado diretamente o agronegócio. Como revelou o Estadão, na semana passada, uma coalizão inédita formada por 230 organizações e empresas ligadas às áreas do meio ambiente e do agronegócio enviou ao governo federal um conjunto de seis propostas para deter o desmatamento que destrói a Amazônia.

Condolências. No discurso da ONU, Bolsonaro deverá afirmar que fez esforços para salvar vidas sem ignorar os custos sociais e econômico. No texto preparado para orientar o discurso de Bolsonaro, há uma sugestão de que o presidente brasileiro expresse suas condolências às famílias afetadas pela doença e agradeça esforços dos profissionais de saúde. Desde o início da pandemia, Bolsonaro fez raras menções às vítimas do coronavírus. O tema, por exemplo, foi ignorado em seu pronunciamento de 7 de Setembro.

Trecho

"Recordo que o Brasil já tem uma das legislações ambientais mais abrangentes do mundo."

TRECHO DE TEXTO BASE DO DISCURSO