Título: Latino-americanos serão menos afetados pela crise
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Jornal do Brasil, 09/10/2008, Tema do Dia, p. A3
Os países latino-americanos que conseguiram estruturar seus sistemas financeiros e melhorar os fundamentos macroeconômicos nos últimos seis anos serão os menos afetados pela atual crise que já se alastra pela Europa, comprometendo o crescimento de alguns países que já devem entrar em recessão neste ano, como Irlanda e Itália. Nesta lista estão Brasil, Chile, Colômbia, Panamá, Peru e Uruguai, revelou ontem Augusto de La Torre, economista-chefe para a América Latina e Caribe (ALC) do Banco Mundial (Bird).
Esses países atingiram o grau de investimento e isso os ajudará a atravessar essa crise com mais tranqüilidade disse La Torre. Ele destacou algumas medidas que foram implementadas e ajudarão a minimizar os efeitos da crise nessas economias. Entre elas, a independência do Banco Central na tomada de decisões, o sistema econômico mais robusto, com metas como de inflação, um ajuste e disciplina fiscais e o fortalecimento das leis do sistema financeiro.
A crise vai afetar a todos, mas a América Latina deverá sentir um impacto menor do que outras regiões acrescentou. Aqui, os países mais afetados pois registram riscos maiores e não possuem ambiente confiável serão Bolívia e Equador, informou La Torre, ontem, ao apresentar estudo sobre o impacto da crise na América Latina.
Assim como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial prevê uma desaceleração no crescimento da região. A previsão do Bird é de um crescimento de 2,5% em 2009, enquanto o FMI estima uma expansão regional um pouco maior, de 3,2%. A América Latina tem se comportado bastante bem nos últimos tempos e deverá atravessar essa turbulência em uma situação bem melhor do que aconteceu nas anteriores afirmou o economista, acrescentando que hoje a maioria dos países da região não tem endividamento externo, o que ajudará a minimizar ainda mais o impacto da crise e de uma depreciação da moeda local, como já vem acontecendo.
O Chile foi o país que mais aprendeu com as lições do passado. Essa crise vai compensar as boas ações e punir os equivocados. Os países que exportam commodities como os sul-americanos, incluindo o Brasil serão os mais afetados, mas os que não exportam também sofrerão impacto, uma vez que dependem das remessas de divisas de imigrantes, como é o caso da maioria dos países do Caribe, explicou La Torre. Estamos atravessando um momento decisivo e de mudança do atual sistema financeiro mundial. Os Estados Unidos estão perdendo peso na economia global e a China e a Índia serão os grandes responsáveis pela continuidade do crescimento da economia mundial afirmou.
Segundo o economista, as reformas nos sistemas financeiros e monetários serão inevitáveis e o momento é de reflexão, para a busca de uma solução para a crise de forma a não prejudicar os países mais vulneráveis e, com isso, aumentar o índice de pobreza global. Várias discussões serão retomadas, inclusive a revisão de Basiléia 2 afirmou. Crescimento acima da média As previsões de crescimento do FMI para a América Latina ainda são melhores do que as para o resto do mundo, com o Peru liderando a marcha na região, apesar de apresentar uma leve desaceleração em 2009.
O relatório Panorama Econômico Mundial divulgado ontem elevou em 0,1 ponto percentual a previsão de crescimento na região este ano, para 4,6%, mas reduziu em 0,4 ponto a do ano que vem: 3,2%. Ainda assim esse número ficará acima da média mundial, que deverá girar em torno de 3%, segundo o FMI. De acordo com o estudo, "as economias latino-americanas enfrentarão uma desaceleração na atividade econômica em função da crise internacional, mas o pior é que o risco de inflação ainda é elevado.
A região, após quatro anos de crescimento acelerado, deverá enfrentar uma redução nas exportações, o que afetará diretamente a evolução do PIB local". (Rosana Hessel)