Título: Recuperação só virá a partir de 2009
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Jornal do Brasil, 09/10/2008, Tema do Dia, p. A3

FMI prevê que tempos serão difíceis, principalmente para países desenvolvidos, que correm o risco de ter crescimento zero ou até negativo.

Tempos difíceis, com cresci- mento zero ou até negativo nos países desenvolvidos: é este o terrível prognóstico do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia mundial. ­ Se medidas macro e financeiras corretas forem adotadas em tempo, poderemos atravessar a tempestade e esperamos um início de recuperação ainda em 2009 ­ diz o conselheiro econômico e diretor de pesquisa do Fundo, Oliver Blanchard.

A maioria das previsões do relatório Panorama Econômico Mundial, divulgado ontem em Washington, foram revistas para baixo, revelando a menor expectativa de expansão global desde 2002. A revisão corrige a anterior, de julho, que havia aumentado a expectativa de expansão mundial. ­ Nossa melhor previsão é de um crescimento global de 3% em 2009 ­ disse Blanchard, que alertou para um maior risco de inflação e ressaltou o fato de que os países emergentes não passarão incólumes pela crise atual, que ontem derrubou novamente os mercados e fez as bolsas de valores internacionais fecharem com novas quedas.

Mas, para o presidente americano George Bush, "o Brasil tem uma plataforma sólida para enfrentar a crise devido aos bons fundamentos da economia", em suas próprias palavras. A frase foi dita ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em telefonema ao Palácio do Planalto no início da tarde. Segundo Bush, os primeiros efeitos do pacote de ajuda ao sistema financeiro americano serão sentidos em duas semanas e meia. Lula parabenizou o colega pela aprovação do pacote e garantiu que o país vive num momento de solidez e, por isso, está mais preparado para enfrentar crises.

Incer tezas

O diretor adjunto de pesquisas do FMI, Charles Collyns, não tem tanta certeza disso. No relatório do Fundo, a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2008 foi ampliada de 4,9% para 5,2%, mas para 2009 foi reduzida de 4% para 3,5%. ­ A economia brasileira está frente a choques que deverão afetar o crescimento do próximo ano. As condições financeiras externas vão estar mais apertadas. A liquidez das posições está diminuindo, o que está pressionando o câmbio.

O Brasil é também um exportador de commodities e, diante da expectativa de queda na receita deste setor, terá um crescimento menor ­ explicou Collyns, que participou da divulgação do relatório ontem. Além do alerta sobre a escassez de crédito em todo o globo, o estudo prevê alta nos preços de uma forma generalizada, principalmente neste ano, com uma leve redução em 2009.

No Brasil, por exemplo, a estimativa de inflação é que continue acima dos 5%. Na América Latina e Caribe, os preços deverão subir 7,9% este ano e 7,3% no seguinte. As expectativas do PIB dos Estados Unidos foram revisadas para baixo e deverá crescer apenas 1,6% neste ano e 0,1% no ano que vem, perto de uma recessão.

Europa em recessão

Já as economias européias, como a Itália e Irlanda, devem fechar 2008 em recessão, com queda de 0,1% e 1,8% no PIB, respectivamente, neste ano de 0,2% e 0,6% em 2009. No próximo ano, Espanha e Reino Unido e Islândia irão se juntar ao grupo dos países em recessão, com queda no PIB de, respectivamente, 0,2%, 0,1% e 3,1%. O FMI manteve as previsões de crescimento para a China em 2008, de 9,7%, e reduziu a expectativa de expansão para 2009 em 0,5 ponto, para 9,3%.

A Índia deverá crescer 7,9% neste ano e 6,9% no ano que vem, respectivamente, 0,1 e 1,1 ponto percentual abaixo das estimativas anteriores. A Rússia também teve as taxas reduzidas em 0,7 e 1,8 ponto, com evolução do PIB de 7% e de 5,5% neste e no próximo ano. No geral, os países emergentes continuarão crescendo acima da média global: o Fundo prevê uma expansão desse grupo de 6,9% para este ano ­ mantendo a previsão ­ e de alta de 6,1%, 0,6 ponto percentual abaixo da estimativa anterior.

O conselheiro elogiou a ação coordenada dos pelos cinco principais bancos centrais do mundo que anunciaram ontem corte em suas respectivas taxas de juros. ­ É um passo na direção certa ­ afirmou, acrescentando que iniciativas fiscais podem ser úteis e assim como mais eficientes se elas forem focadas na estabilização das condições econômicas.

Corte de juros

Os bancos centrais dos Estados Unidos (Fed), Europeu (BCE), da Inglaterra, Suécia, Suíça e Canadá reduziram os juros em 0,5 ponto percentual. A taxa básica do Fed passou de 2% para 1,5% e a do BCE caiu de 4,25% para 3,75%. ­ Mais cortes podem ser necessários.

Se forem, espero que sejam feitos. Um corte de 0,5 ponto já é alguma coisa, mas acho que mais esforço deve ser feito não só do lado monetário, mas também uma solução financeira. E, especialmente na Europa, é onde é mais necessário ­ acrescentou Blanchard. O relatório afirma que a economia está está diante do maior e perigoso choque financeiro desde 1930: "A situação é excepcionalmente incerta e o importante é a redução dos riscos.

Uma política imediata de mudança para estabilizar as condições financeiras, enquanto o cuidado com economia durante o período de desaceleração da atividade e mantendo a inflação sob controle".