Correio braziliense, n. 21037, 29/12/2020. Política, p. 2

Baleia de um lado; Lira de outro

Augusto Fernandes 

29/12/2020

Na tentativa de consolidar o apoio da esquerda à sua candidatura para a Presidência da Câmara, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) conquistou pontos importantes com a oposição após uma reunião na tarde de ontem, com PT, PDT, PSB e PCdoB. Ao se comprometer com uma lista de exigências apresentada pelas legendas, o candidato de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ouviu das siglas a promessa de que terá os votos dos parlamentares dos partidos nas eleições de fevereiro.

Um dos principais pedidos foi o de que a oposição tenha mais espaço na Câmara, seja na composição da Mesa Diretora ou nas comissões permanentes. Para as siglas de esquerda, Baleia precisa respeitar a proporcionalidade entre os partidos. Além disso, Baleia ouviu da oposição o pleito de que Projetos de Decreto Legislativo (PDLs) sejam colocados em votação com mais frequência. O instrumento tem o poder de suspender os efeitos de decretos presidenciais, que entram em vigor sem a necessidade do aval do Congresso Nacional.

As legendas ainda demandaram ao emedebista que as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) sejam instaladas assim que receberem o mínimo de assinaturas necessárias para as suas criações e que os deputados possam, cada vez mais, convocar ministros de governo para serem interrogados na Câmara. Baleia disse que a conversa foi muito produtiva e destacou que está "otimista com o que estamos construindo juntos".

"Nós pudemos reafirmar os nossos pontos convergentes: de defesa da democracia, das instituições, de uma pauta de defesa do meio ambiente e das liberdades. Claro que a democracia prevê o amplo e permanente diálogo. Cada líder, cada presidente de partido vai se reunir com a sua bancada. Mas saio muito otimista pela união do centro com a esquerda democrática para a gente poder caminhar nessa candidatura", afirmou, em vídeo publicado nas redes sociais.

Apesar de o apoio ainda não ter sido oficializado por parte dos quatro partidos, líderes das siglas já admitem fazer coro pela campanha de Baleia. "Ficou claro que o deputado Baleia Rossi, como presidente da Câmara, será um presidente com independência e que vai garantir o devido espaço à oposição, como manda a Constituição e o regimento. Os partidos de esquerda caminham todos para essa posição (de apoiar Baleia), que é a posição correta. Estamos muito otimistas com a campanha, confiando muito na nossa vitória. Nosso bloco é, de longe, o maior. Isso aumenta muito as nossas chances de vitória", afirmou ao Correio o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), líder do partido na Câmara.

Líder do PCdoB na Casa, a deputada Perpétua Almeida (AC) disse ao Correio que "há um compromisso dos partidos de construírem na sua base a candidatura do Baleia". "Defendemos uma Câmara independente e livre, bem como a proteção da democracia e das nossas instituições, que sofrem constantes ataques do governo federal. Para nós, também, é fundamental que não se coloquem em pauta projetos que atentem contra a Constituição. E o Baleia se comprometeu em respeitar tudo isso", destacou.

Segundo ela, os partidos devem discutir internamente qual será a orientação para cada um dos deputados. O PT, em especial, é a legenda que mais pondera o apoio a Baleia, que votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e permitiu que Michel Temer, também do MDB, assumisse o Palácio do Planalto. Nas redes sociais, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional da sigla, informou que a bancada da legenda na Câmara se reunirá, nesta manhã, para tomar uma decisão.

"Nesta terça, a bancada do PT volta a debater a eleição para a mesa da Câmara. Insistimos em construir com a oposição caminho único e agenda de compromissos com ordem democrática, representatividade, e principalmente, situação do povo brasileiro e soberania do país, antes de definir nomes", escreveu.

Apoio de Bolsonaro
Rival de Baleia na eleição, o deputado Arthur Lira (PP-AL) recebeu o apoio do presidente Jair Bolsonaro ontem. "Vamos ter eleição na Câmara agora. Uma das chapas, ali, é o Rodrigo Maia e PT, PCdoB e PSOL. E tem uma outra chapa. Eu estou nessa outra. Não vou nem discutir. Se está de um lado PT, PCdoB e Rodrigo Maia, eu estou do outro lado", afirmou o mandatário, a apoiadores.

Parlamentares da base governista também defenderam o nome do deputado, em especial do PSL. Na semana passada, o partido anunciou que, em tese, iria aderir à candidatura de Baleia. "Declaro publicamente meu apoio ao Arthur Lira para presidente da Câmara. E me pergunto como alguém pôde imaginar eu aliada a Rodrigo Maia, PT, PCdoB, PSol... Ou seja: a escória do Brasil, que luto desde 2011 para colocar a maioria deles na cadeia", frisou a deputada Carla Zambelli (PSL-SP).

A deputada Alê Silva (PSL-MG) foi mais uma a anunciar que votará em Lira. "Em reunião com o deputado Arthur Lira percebi que ele converge em muitos pontos que eu e o presidente defendemos. Por isso, o meu voto é dele. Por outro horizonte, jamais votaria em candidato do grupo do Rodrigo Maia, nem que viesse pintado de ouro. Tenho plena consciência de que não podemos ter um opositor na Presidência da Câmara. Por outro horizonte, vou continuar trabalhando pelos ideais que me elegeram, pois, do contrário, eu seria uma charlatã, o que não combina comigo", comentou.

A parlamentar disse não ver problemas em seguir uma orientação diferente da que o partido estabeleceu. "Mais uma traição para a minha coleção. Sabem o que há de bom nisto? Que o joio se separa do trigo e que só os leais seguirão fortes, porque esses, sim, não se vendem, não têm o espírito fraco. Os malandros piram quando encontram alguém que não se vende."