Título: PMDB exibe poder e cobra a fatura pela aliança com PT
Autor: Correia, Karla; Falcão, Márcio
Fonte: Jornal do Brasil, 09/10/2008, País, p. A14
Maior partido no Congresso cogita até mesmo ter candidato à presidência.
BRASÍLIA
O PMDB saiu do primeiro turno das eleições deste ano como um gigante dono de 1.194 prefeituras, endossado por um contingente de 18,4 milhões de votos ¿ um recorde entre pleitos municipais ¿ e mirando em 2010, mais especificamente na possível aliança com o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a sucessão presidencial.
O peso da legenda que emergiu das urnas salta também chamou a atenção do PSDB, que, de olhos postos na corrida pelo Palácio do Planalto, ensaia cortejar o PMDB. Sob as atenções das duas siglas que prometem polarizar a disputa pelo Planalto em 2010, a maior legenda da base governista se transforma no fiel da balança na disputa pela presidência. E cobra, desde já, a fatura pelo seu apoio.
Do ponto de vista do governo, a sigla é a pedra de toque capaz de, ao lado do prestígio de Lula, cacifar a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, como candidata à presidência da República em 2010. A tal ponto que, na análise de um ministro da ala política do governo, o programa eleitoral de Dilma seria forçado a seguir duas direções. Uma de esquerda, mais petista, outra de centro, capaz de acomodar os interesses do PMDB. Só uma aliança de centro-esquerda seria capaz de enfrentar a investida tucana em 2010, com o esgotamento da era Lula, avalia o ministro.
Jogo de poder
A articulação pelo apoio na sucessão presidencial passa necessariamente pelo jogo de poder no Congresso. Ontem, na Câmara, a bancada do partido se reuniu para discutir a indicação de um nome para a sucessão na presidência da Casa. O ato, que consagrou, por aclamação, o presidente da legenda, deputado Michel Temer (SP), se transformou em um palco para os inúmeros discursos de fortalecimento e unidade do partido.
¿ Temos força para estar no Planalto ¿ afirmou o ministro de Minas e Energia, Edson Lobão. ¿ Vamos buscar uma composição que esteja à altura do PMDB. Temos dois anos para trabalhar e se aparecer um nome, se tivermos condições, não vamos nos contentar apenas com a vice.
Para o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, o PMDB tem força e pode trabalhar um nome pelos próximos meses que seja capaz de representar o projeto do partido para o país. A aliança com o PT seria, na avaliação dos ministros, uma rota natural, uma vez que o próprio Lula propaga a idéia de que seria melhor lançar um único nome da base aliada na disputa.
¿ O entendimento sempre é o melhor caminho - desconversou Geddel.
O aval do PMDB à candidatura de Temer contou ontem com a presença de líderes do partido do Senado ¿ 94 dos 96 peemedebistas da Câmara estiveram presentes. A idéia era demonstrar que a prioridade é a conquista da presidência da Câmara. Para reforçar a tese estiveram por lá os senadores José Sarney (MA), Renan Calheiros, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), o líder da bancada, Valdir Raupp (RO), a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (MA), além dos ministros Lobão, Geddel e José Gomes Temporão.
Por ser a maior bancada do Congresso, o partido teria direito à presidência da Câmara e do Senado, mas os deputados articulam a divisão com o PT. Pelo acordo fechado no início da atual legislatura, ficou acertado que nos dois primeiros anos o comando da Câmara ficaria com o PT e o Senado com o PMDB. Para o biênio seguinte, de 2009 a 2010, haveria a inversão. Mesmo com o empenho dos senadores, no Senado há forte resistência ao nome do petista Tião Viana.