Título: Quando comer faz mal
Autor: Rafael Baldo
Fonte: Jornal do Brasil, 26/01/2005, Brasília, p. D8

HUB divulga novo método para diagnosticar doença causada pelo glúten

Um convênio entre o Hospital Universitário de Brasília (HUB) e o Ministério da Saúde promete padronizar o diagnóstico e divulgar os procedimentos de reconhecimento da doença celíaca. As negociações avançam, com expectativa de aplicação do projeto ainda no primeiro semestre deste ano em todos os hospitais públicos do Brasil. A doença celíaca é uma enfermidade pouca conhecida pela população. De origem hereditária, muitas vezes o paciente demora anos para saber que tem a doença e pode associar a enfermidade a um mero desarranjo intestinal, má nutrição ou anemia. O celíaco é o enfermo incapaz de absorver o glúten, uma proteína que forma a liga de massas, pães, chocolates, sorvetes e até salgadinhos industrializados.

Apesar de ter mortalidade baixa, a pessoa portadora não reconhece a proteína e o organismo ataca o glúten. Os sintomas variam desde um desarranjo intestinal e anemia até convulsões e desidratação aguda. A incidência chega a uma criança para cada 187 e um adulto para cada 490, segundo levantamento de pacientes do laboratório do Hospital Universitário.

O HUB desenvolve um trabalho pioneiro no reconhecimento da doença. Em 1998, a médica Lenora Gandolfi foi à Itália para melhorar os conhecimentos sobre a doença, inclusive tratando nômades da Argélia para levantar a incidência de celíacos na população. Lenora trouxe de lá um novo método de diagnóstico da doença.

- Antes, apenas por biópsia de uma amostra do intestino do paciente era possível verificar se a doença existia. Atualmente, há dois métodos de verificação da doença pelo sangue. E uma outra alternativa pelo exame de DNA que checa a predisposição genética do indívíduo. Desde o dia 16 de maio de 2004 é lei colocar na embalagem dos alimentos os dizeres ''Contém Glúten'' para receitas com esta proteína. A medida reflete a importância e o número de pessoas intolerantes ao glúten, além do cuidado que o paciente deve tomar pelo resto da vida com a dieta. A única forma de cura da doença é cortar a proteína do cardápio, afirma Lenora.

- Mas não se deve retirar o glúten antes do diagnóstico. Se houver uma interrupção brusca antes do diagnóstico, os anticorpos não reagem contra a proteína durante um ano e atrapalha o reconhecimento da doença - avisa.

Um caso interessante é do austríaco Alfred Gassner, de 81 anos. Fred, como é conhecido, chegou ao Brasil em 1956 e sempre reclamou de dor no intestino. Apenas quando lutou na Segunda Guerra não sofreu os sintomas, por comer apenas batata no campo de batalha.

Os interessados podem procurar o Ambulatório do Centro de Prevenção e Diagnóstico da Doença Celíaca toda terça-feira, entre 10h e 12h, na sala G1 da ala de Pediatra (corredor laranja).