Título: À espera de um socorro definitivo
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 11/10/2008, Opinião, p. A8

O pessimismo tomou conta ontem novamente dos mercados financeiros, que andam ansiosos por boas notícias ¿ tão escassas quanto o crédito nos últimos tempos. A cena final deste filme é nossa velha conhecida: o sistema financeiro mais uma vez derretendo. A semana encerra com sete dias de queda na Bovespa ¿ que ontem acionou pela quarta vez em menos de 15 dias o circuit breaker, um sistema que suspende temporariamente o pregão para evitar maiores perdas. O temor generalizado abraça as bolsas do mundo, que sucessivamente fecham em baixa, como a Bolsa de Nova York, que já havia atingido a maior queda em 21 anos na quinta-feira. A esta realidade se soma o desempenho da cotação do dólar, hoje em franca valorização, o que realça a loucura que toma conta do centro nervoso financeiro: os mercados somam perdas que remetem economistas, chefes de governo, historiadores e leigos à inevitável comparação às crises de 1929 e 1987. Todos, sem exceção, estão temerosos com a possibilidade de reviver momentos de recessão como no passado.

O estresse reinante no cenário financeiro espelha o quanto a falta de confiança domina a aura do mercado de ações. Não há mais racionalidade nas aplicações, investimentos escoam de ativos exatamente como as águas dos rios correm para o mar. A mensagem por trás desse movimento é clara. Investidores assinam nas entrelinhas das quedas vertiginosas que exigem medidas claramente mais eficazes dos bancos centrais mundiais, capazes de conter o pessimismo e a quebradeira de instituições financeiras.

Há algum tempo, a maior economia do mundo já dava sinais de que dificuldades estavam se descortinando e agora o sistema capitalista se encontra às voltas com medidas estatizantes e reguladoras para dar suporte e segurança à engenharia financeira. A intervenção do governo americano, que parecia salvadora nos primeiros momentos, não surtiu nem de longe o efeito desejado. Mas o que parecia ser o limite final de uma turbulência, acabou por abrir as portas para uma crise maior, a de confiança. Quer seja porque o pacote realmente não seria suficiente para encobrir todos os problemas financeiros existentes nos EUA e no mundo oriundos da crise dos subprime, quer seja porque a demora na aprovação alimentou a desconfiança dos investidores, a verdade é que as medidas até agora divulgadas não estão à altura de segurar essa onda de negativismo que tomou de assalto as bolsas ao redor do mundo. As ações destinadas a salvar as instituições financeiras já superam os US$ 2 trilhões e, nem assim, a normalidade retornou às bolsas de valores.

O mercado quer respostas mais consistentes e profundas dos Bancos Centrais. A globalização tornou todos os países mais vulneráveis às oscilações e as transformam em experiências vividas mundialmente. Uma boa oportunidade para os países desenvolvidos encontrarem o freio para esta desmedida volatilidade é a aposta de hoje com o encontro do G20 ¿ grupo do qual o ministro Guido Mantega é o atual presidente, formado pelos ministros da Fazenda e presidentes de Bancos Centrais dos países do G7 (Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão) e de outros 13 em desenvolvimento. Representantes do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial também participam.

O fantasma de uma longa e duradoura recessão, com dinheiro escasso, postos de trabalho sendo fechados e consumo retraído, assombra não só os investidores, mas toda a população. O grande desafio está nas mãos dos líderes das maiores economias: arquitetar uma saída para crise de confiança que abala o mercado. O primeiro passo foi dado, o de reunir esforços e discutir uma saída conjunta. Falta agora encontrar o diferencial que garanta o restabelecimento da normalidade no cenário econômico.