O Estado de São Paulo, n.46364, 25/09/2020. Política, p.A10

 

Ministro firma regras para candidatos negros

Rafael Moraes Moura

25/09/2020

 

 

Lewandowski estabelece que siglas devem dividir seus concorrentes por gênero e depois reservar recursos para cada grupo

Pressionado por partidos políticos, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), divulgou ontem as regras de como deve ser aplicada – já nas eleições deste ano – a reserva de recursos para candidatos negros. No centro da controvérsia, estão os R$ 2 bilhões do Fundo Eleitoral reservados para o financiamento da campanha de vereadores e prefeitos de todo o País.

Em agosto, o TSE havia decidido que a reserva de recursos para candidatos negros só valeria a partir das eleições de 2022, mas uma liminar de Lewandowski antecipou a adoção das novas regras para este ano. O STF deve iniciar hoje a apreciação da liminar e conclusão está prevista para 2 de outubro. Conforme informou o Estadão,a tendência é que o plenário mantenha a decisão de Lewandowski, mas, até agora, os partidos alegam que não sabem como aplicar a nova regra.

O ministro estabeleceu que, para calcular os recursos destinados a negros, cada partido deverá primeiramente separar candidaturas masculinas e femininas, independentemente da raça – a legislação impõe uma cota de 30% para mulheres. Depois, cada legenda deverá calcular o porcentual de candidatas negras em relação ao total das candidaturas femininas do partido, bem como o porcentual de candidaturas de negros em relação ao total dos candidatos. A divisão dos recursos deverá obedecer a proporção de homens negros no universo de candidatos, e a quantidade de mulheres negras no universo de candidaturas femininas da legenda. Cabe a cada candidato declarar sua raça à Justiça Eleitoral.

"Do total de recursos destinados a cada gênero é que se separará a fatia mínima de recursos a ser destinada a pessoas negras desse gênero", ressaltou Lewandowski. "A fiscalização da aplicação dos porcentuais mínimos será realizada, apenas, no exame das prestações de contas do diretório nacional, pelo TSE", acrescentou.

A decisão foi tomada após o ministro receber ofício do presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, com questionamentos dos partidos sobre a aplicação das novas regras neste ano. Em reunião por videoconferência na quarta-feira, siglas de diferentes matizes ideológicos criticaram a aplicação da regra já nestas eleições, apontaram para os riscos de candidaturas laranjas, além de acusar o Judiciário de invadir as competências do Congresso.

Embora sejam mais da metade dos habitantes do País, os negros permanecem sub-representados no Legislativo – são 24,4% dos deputados federais e 28,9% dos estaduais eleitos em 2018, segundo estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Divisão

"Do total de recursos destinados a cada gênero é que se separará a fatia mínima de recursos a ser destinada a pessoas negras desse gênero."

Ricardo Lewandowski

MINISTRO DO SUPREMO