Título: Belluzzo: problema das hipotecas ainda persiste
Autor: Landler, Mark
Fonte: Jornal do Brasil, 15/10/2008, Economia, p. A17

O professor Luiz Gonzaga Belluzzo, doutor em economia pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e um dos integrantes de um grupo que assessora informalmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em questões econômicas, classifica como positiva a tranquilização dos mercados mundiais a partir da união das nações européias para enfrentamento da crise, mas entende que, de agora em diante, nada se resolverá de maneira eficiente até que se equacione a situação do mercado de hipotecas nos Estados Unidos.

Preparando-se para explicar a turbulência mundial a um grupo de empresários reunidos no Conselho de Desenvolvimento Econômico, ontem, o economista destacou que a redução da volatilidade, primeira conseqüência da intervenção européia equacionada no fim de semana, foi benéfica, pois as oscilações bruscas que marcaram as últimas semanas minam a confiança nas negociações de qualquer ativo.

¿ Na verdade, a bolsa está ficando com uma trajetória mais normal. A volatilidade é muito ruim, tanto na bolsa como no câmbio. Os europeus foram mais eficientes que os americanos, e o Gordon Brown (primeiro-ministro da Inglaterra) foi direto ao ponto, que era capitalizar os bancos, disse o economista.

Belluzzo lembra, entretanto, que a iniciativa também está recebendo críticas, pela demora em se exigir de que os recursos sejam usados para fazer fluir a liquidez do mercado:

¿ A ênfase maior, por enquanto, é na limitação da distribuição de dividendos, mas, do ponto de vista do controle, para uma efetiva injeção de liquidez no sistema, parece haver uma lacuna.

Mas a ressalva principal do economista refere-se à origem da crise, os créditos podres nos EUA:

¿ Se não derem conta do problema do mercado de hipotecas e sinalizarem a situação dos devedores, nada resolverá, porque o devedor final não terá condições de continuar se endividando. O plano do Bush de atender a 400 mil devedores é uma gota d"água no oceano. O programa do Obama prevê US$ 50 bilhões para reestruturar essas dívidas , mas, por enquanto, é apenas uma piossibilidade.