O Estado de São Paulo, n.46367, 28/09/2020. Internacional, p.A10

 

Trump não pagou imposto por 10 anos e em 2016

28/09/2020

 

 

Evasão. A partir de investigação sobre 20 anos de declarações fiscais, jornal afirma que presidente americano desembolsou no ano em que foi eleito e em 2017 o equivalente a R$ 4,1 mil por ano; tema tende a aparecer em primeiro debate entre os candidatos, amanhã

O presidente dos EUA, Donald Trump, não pagou impostos durante 10 anos. Em 2016, quando foi eleito, e 2017, seu primeiro ano no cargo, quitou apenas US$ 750 (R$ 4,1 mil) anualmente em tributos federais. As afirmações foram publicadas ontem pelo New York Times, que investigou 20 anos de declarações fiscais de Trump. Ele nega as acusações.

As declarações de imposto de renda do ex-magnata imobiliário estão no centro de uma batalha jurídica, já que Trump sempre se negou a publicá-las. De acordo com a publicação americana, o presidente não pagou qualquer imposto sobre a renda em 10 dos 15 anos anteriores a sua eleição, "em grande parte porque declarou mais perdas do que receitas". Se for considerada a análise de 18 anos de declarações, foram 11 anos sem pagar imposto.

O jornal obteve informações fiscais dos últimos 20 anos de Trump e das centenas de empresas que compõem seu grupo, incluindo informações detalhadas sobre seus primeiros dois anos no cargo. Não estão incluídas declarações de imposto de renda pessoais de 2018 e 2019.

Trump tem conseguido evadir tributos enquanto desfruta do estilo de vida de um bilionário – algo que ele afirma ser – com suas empresas cobrindo os custos de muitas de suas despesas pessoais. Esta evasão fiscal o diferencia da maioria dos outros americanos ricos.

Os impostos sobre as classes mais altas nos EUA diminuíram drasticamente nas últimas décadas, e muitos usam brechas para reduzi-los abaixo das taxas legais. Ainda assim, a maioria dos ricos acaba pagando altos valores para o sistema federal. Em 2017, a alíquota média para 0,001% dos contribuintes com maior renda era de 24,1%.

Nas últimas duas décadas, Trump pagou cerca de US$ 400 milhões (R$ 2,2 bilhões) a menos em impostos federais do que a média paga pelo grupo anualmente.

Tal evasão fiscal também o diferencia dos presidentes anteriores. Embora seja o presidente dos EUA mais rico da história, paga menos impostos do que outros líderes recentes. Barack Obama e George W. Bush pagavam regularmente mais de US$ 100 mil (R$ 556 mil)por ano – e às vezes muito mais – em impostos federais sobre a renda durante o mandato.

Diferentemente de todos seus antecessores desde a década de 1970, Trump, cujo conglomerado familiar não tem ações na bolsa, se nega a publicar as declarações de imposto de renda.

Um reembolso de US$ 73 mihões (R$ 405 milhões) em 2010 foi crucial para sua evasão fiscal. Trump enfrentou altos impostos após o sucesso inicial do programa de televisão "O Aprendiz", mas apagou a maior parte desses pagamentos por meio desse reembolso. Outro dado obtido pelo jornal mostra que Trump até pagou mais tributos a outros países.

Em uma entrevista coletiva na Casa Branca, Trump disse que se tratava de "fake news". Ele não deu detalhes sobre suas declarações. Em nota enviada ao jornal americano, o advogado Alan Garten, da Trump Organization, disse que "a maioria das informações, se não todas, parecem estar imprecisas".

Em julho, a Suprema Corte decidiu que os promotores de Nova York têm o direito de ter acesso às declarações de renda de Trump e de suas empresas. Em uma sentença separada, porém, o tribunal bloqueou temporariamente as intimações de deputados democratas para obter as movimentações financeiras de Trump, remetendo a decisão às instâncias inferiores.

As duas decisões significaram uma derrota jurídica, mas uma vitória política de Trump, que impediu que os democratas – e os eleitores americanos – tivessem acesso a suas declarações antes da eleição de novembro. Não está claro se o NYT obteve os dados fiscais referentes aos 20 anos de Trump em decorrência dessas decisões.

As declarações tributárias do republicano provavelmente apareçam no primeiro debate entre o presidente e o democrata Joe Biden, amanhã.

Trump voltou a atacar ontem a capacidade mental de seu rival, ao sugerir que o ex-vice-presidente faça um teste antidoping. Ele já havia insinuado que um bom desempenho de Biden só poderia ser explicado pelo uso de drogas. "Vou solicitar veementemente um teste de doping para 'Sleepy Joe' ('Joe Dorminhoco') antes ou depois do debate", escreveu o presidente de 74 anos no Twitter. O republicano especificou que "naturalmente" também passaria pelo mesmo teste. / NYT

Provocação

"Vou pedir um teste de doping para 'Sleepy Joe' ('Joe Dorminhoco') antes ou depois do debate na noite de terça-feira"

Donald Trump