Título: Marina Silva : ''Há uma disputa, dentro e fora do governo''
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/02/2005, País, p. A3

Quando alguém pergunta à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sobre a queda-de-braço entre ''desenvolvimentistas'' e ambientalistas dentro do governo, ela não foge do assunto: - Há uma disputa dentro e também fora do governo, que envolve as estruturas do poder, a opinião pública e as empresas. É um processo de construção difícil no mundo inteiro. Não é fácil estruturar uma política ambiental que dialogue com o desenvolvimento - analisa a ministra.

As mudanças efetuadas pelo Senado na Lei de Biossegurança constituem um dos tópicos dessa disputa. São alterações que não deixaram Marina Silva satisfeita.

- Vou continuar lutando pelo que acho correto, com a maior transparência. O presidente Lula sabe disso.

Na visão da maioria das organizações ambientalistas, apesar dos esforços da ministra, o governo valoriza o crescimento econômico, que tem como um dos pólos a expansão da fronteira agrícola, deixando para segundo plano os aspectos ecológicos relacionados. Em outros países, observa o deputado Fernado Gabeira (PT), o crescimento a qualquer custo trouxe consigo a devastação ambiental.

Apesar da disputa interna e das críticas de ambientalistas, Marina Silva vê progressos nos dois anos do governo Lula:

- Tive total liberdade, dada pelo presidente, para montar minha equipe, que é identificada com a questão ambiental. O Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento Ilegal da Amazônia abrange 13 ministérios, o que mostra o envolvimento do governo na questão. Criamos 19 bases de operação estratégica para combater o desmatamento e 27 delegacias especializadas em crimes ambientais,.

A ministra cita as ações integradas com 16 ministérios, para prevenir problemas ambientais em futuras obras e ações.

- Nunca se fez nada em nosso país com essa abrangência - desabafa.

Os números continuam sendo exibidos: mais de 3 milhões de hectares de unidades de conservação criadas só nos dois primeiros anos de governo, contra 512 mil nos dois primeiros anos do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso; aumento de 68% no número de grandes operações de fiscalização realizadas na Amazônia, contratação de profissionais permanentes e uma elevação de 27% no volume de multas aplicadas.

- Estamos construindo processos consistentes. Entramos fundo na questão da regularização fundiária, algo que não se fazia há 30 anos. Só não podemos alterar tudo de uma hora para outra, embora a sociedade tenha o direito de querer mudanças mais rápidas - argumenta a ministra. (I.T.)