Título: Dólar volátil compromete negócios
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 18/10/2008, Economia, p. E2

Oscilações bruscas comprometem planejamento de exportadores e criam clima de incerteza

Outro complicador no cenário das exportações brasileiras tem sido a apreciação do dólar, processo disparada a partir do agravamento da crise internacional. De um patamar de R$ 1,55, alcançado no final de julho, a moeda americana tem descrito uma trajetória de sucessivas altas ¿ entremeada com algumas quedas ¿ que forçam intervenções freqüentes do Banco Central no mercado cambial. As oscilações bruscas comprometem o planejamento das empresas exportadoras e criam um clima de incerteza sobre o patamar a ser adotado nos novos contratos.

Para refrear a valorização da divisa americana, todos os dias, o Banco Central está usando perto de US$ 1 bilhão das reservas internacionais. Segundo a própria autoridade monetária, as reservas brasileiras alcançavam um total de US$ 205,195 bilhões na segunda-feira. No dia seguinte, o volume já havia caído para US$ 203,973 bilhões, marcando diminuição de US$ 1,222 bilhão dos recursos em 24 horas.

As operações em dólares, com venda direta, leilão de swap cambial e leilão com obrigação de recompra têm conseguido domar as pressões cambiais segundo os especialistas, que vêem riscos ainda mais graves na alta exagerada.

¿ É preciso evitar aquela sensação de que nossa moeda está sofrendo, que estamos sendo muito contagiados pela crise, porque as expectativas de tal situação são muito negativas na percepção internacional sobre o Brasil ¿ diz Júlio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

A escalada do dólar ainda pode comprometer as metas de controle inflacionário.

¿ Um dos efeitos da crise sobre nossos preços é a redução das commodities, mas com a desvalorização excessiva do real, ocorre uma pressão talvez até maior no sentido do aumento de preços ¿ diz Júlio, que ainda aponta o risco de retomada da política de juros altos adotada pelo Comitê de Política Econômica (Copom) nos últimos meses para debelar a alta dos produtos.

Para José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), em 2009, o dólar deve se livrar da extrema volatilidade das últimas semanas e ficar em torno de R$ 1,90 a R$ 2,10. Mas o executivo teme o risco de outros países emergentes ou em desenvolvimento viverem crises a partir da valorização da moeda norte-americana.

¿ Assim como o Brasil teve uma rápida elevação do dólar, também sofreu acentuada queda no valor das commodities. As consequências deste cenário em outras economias mais frágeis, sem tantas reservas como nós, são imprevisíveis e podem gerar uma moratória, que acenderia a luz vermelha da crise cambial, como a que tivemos em 1997, com a volta do Fundo Monetário Internacional à cena ¿ diz.