O Estado de São Paulo, n.46366, 27/09/2020. Metrópole, p.A21

 

PGR pede abertura de inquérito contra ministro

Camila Turtelli

27/09/2020

 

 

Vice-procurador-geral vê homofobia em declaração feita ao 'Estadão' que atribuiu homossexualidade a 'famílias desajustadas'

O vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de um inquérito contra o ministro da Educação, Milton Ribeiro, por homofobia, após declarações dadas em entrevista ao Estadão em que ele atribui a homossexualidade de jovens a "famílias desajustadas".

"Acho que o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (sic) tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe", afirmou o ministro.

Na entrevista, Ribeiro também eximiu a pasta de responsabilidades sobre a volta às aulas no País e afirmou que deve revisitar o currículo do ensino básico e promover mudanças em relação à educação sexual. Segundo ele, a disciplina é usada muitas vezes para incentivar discussões de gênero. "E não é normal. A opção que você tem como adulto de ser um homossexual, eu respeito, mas não concordo", afirmou ele, que também disse ter "certas reservas" a professores transgêneros.

Em nota à imprensa divulgada ontem, Ribeiro disse que sua fala foi "interpretada de modo descontextualizado". "Jamais pretendi discriminar ou incentivar qualquer forma de discriminação em razão de orientação sexual", escreveu o ministro, que pediu desculpas.

"Nesta oportunidade, diante de meus valores cristãos, registro minhas sinceras desculpas àqueles que se sentiram ofendidos e afirmo meu respeito a todo cidadão brasileiro, qual seja sua orientação sexual, posição política ou religiosa."

Reação. Durante a semana, parlamentares reagiram à entrevista de Ribeiro. O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) disse que iria ao STF para que o ministro fosse investigado por homofobia. O deputado David Miranda (PSOL-RJ) também pretendia acionar o MPF.

Presidente da Comissão de Educação da Câmara em 2019, o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) considerou que as declarações mostram "preconceito inconcebível". E a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) declarou que o chefe do MEC carece de "gana" para lutar pelo orçamento da pasta e "empatia" ao "propagar preconceito à comunidade LGBTQIA+".