Título: Mercadante: crise vai punir os imprudentes e destruir fracos
Autor: Dantas, Cláudia
Fonte: Jornal do Brasil, 18/10/2008, Economia, p. E3

Muita coisa vai mudar e estamos assistindo a grandes transformações. Esta crise já está maior do que a de 1929, quando a bolsa caiu 42%. Agora a bolsa já caiu 46%. É verdade que, naquele ano, 900 bancos quebraram, mas seguiu-se o New Deal, com Roosevelt, o predomínio da teoria econômica de Keynes, com uma nova visão da relação do Estado com o mercado, o papel multiplicador da demanda.

A diferença é que como o mundo já conhece aquela experiência, tanto a teoria econômica como os instrumentos são muito mais eficazes do que naquela época. As conseqüências da evolução da crise podem ser outras, justamente pela resposta da teoria econômica. Hoje já assistimos à maior coordenação política e econômica da história do capitalismo. Tivemos no mesmo dia os bancos centrais da União Européia e dos Estados Unidos, China e Ásia reduzindo as taxas de juros, já temos um pacote de socorro às instituições financeiras que já chega a US$ 6,5 trilhões. Não há nada próximo a isto em toda a história do capitalismo. Se o discurso neoliberal fosse mantido, significaria uma quebradeira geral, como parte de um saneamento do capitalismo, e é, na verdade.

A crise vai punir os que foram imprudentes, destruir os mais fracos, premiar os mais prudentes e com melhores fundamentos macroeconômicos. Mas é evidente a necessidade de o Estado ter novos mecanismos de regulação para recuperar a liquidez, o funcionamento do crédito, para diminuir o grande impacto que tudo isto terá na economia real. Vamos viver um período de dor e esperança.

É importante destacar que, já em 2007, países em desenvolvimento representaram 75% do crescimento da economia mundial. E um grande processo de redução da distância entre países ricos e pobres, só que em vez de ser pelo crescimento dos pobres, está sendo pelo empobrecimento dos ricos. E o eixo dinâmico da economia mundial deslocou-se para os países em desenvolvimento.

Terá que ser repactuada uma nova ordem econômica mundial. Os bancos de investimento americanos, que não tinham nenhuma regulação, acabaram, tiveram que se transformar em bancos comerciais para sobreviver, se enquadrar nas normas de Basiléia. Acabou aquele mundo da especulação desenfreada, aquele mundo de fortunas feitas da noite para o dia, dos papéis emitidos sem contrapartida na economia real. Mas, neste momento o governo está mais para bombeiro do que para arquiteto.

O Brasil tem condições de sair forte na retomada do crescimento. Depois de 29, se industrializou e mudou seu padrão de desenvolvimento. E hoje está muito melhor no potencial de crescimento."