Título: Para Reinaldo Gonçalves, pancada trará reordenação
Autor: Dantas, Cláudia
Fonte: Jornal do Brasil, 18/10/2008, Economia, p. E3

"Na realidade, não vai acontecer nada de extraordinário. Já aconteceu, o que é importante. Mas, de certa forma, uma volta ao passado é uma re-regulamentação da economia. Isto é um fenômeno secular dentro do capitalismo".

"Eles estão tentando resolver tudo com forte presença do Estado, tanto no setor financeiro como em outras áreas de natureza mais geral, embora importantes, como alguns benefícios na previdência. Daqui para a frente, voltarão a regulamentação e o controle mais fundo do sistema financeiro e dos fluxos internacionais de capitais".

"Paralelamente, avança a questão ambiental. A União Européia está fazendo uma reunião importante para adotar regras mais rigorosas para contenção do efeito-estufa. Em tudo isto, a pancada tem um lado positivo de reordenar as coisas. Resta então a questão do mercado de trabalho, que sofre os efeitos perversos, queda do emprego, informalidade, precarização e perda dos direitos sociais, e aí não há sinais de melhorias à vista."

"O capitalismo vai continuar sendo a mesma porcaria que é, apenas com a peculiaridade de uma re-regulamentação do movimento de capitais. Isto ocorreria em nível nacional, uma supervisão prudencial: os bancos centrais serão mais cuidadosos, com critérios mais rígidos e maior controle sobre as instituições financeiras, seguradoras, bancos de investimento, corretoras, mercado de derivativos, futuros e de ações. Mas não acredito que surjam agora tentativas multilaterais para concertação. Agora seria improvável. Seria mais ou menos a situação em que uma casa estivesse pegando fogo, com bombeiros entrando, e alguém pretender chamar o decorador".

"É certo que o FMI e o Banco Mundial já perderam suas funções, tinham que acabar mesmo, mas as regulamentações devem ocorrer. As mudanças devem ser, fundamentalmente, aplicadas aos sistemas financeiros nacionais. Esta crise não causará nenhuma grande modificação no capitalismo. Ele apenas vai recuperar, em termos de controle, o que tinha perdido a partir dos anos 80. Haverá uma centralização de capitais, a inevitável socialização dos prejuízos através dos bancos temporariamente estatizados, mas tudo se recomporá depois, tanto que a participação dos tesouros e bancos centrais nos bancos será através de ações preferenciais, sem direito a voto. Mas é provável que se reduza a presença de bancos estrangeiros nas economias nacionais, uma nacionalização, mas sem estatização do sistema".

"Para nós, aqui, tudo continuará como sempre: um capitalismo subdesenvolvido, atrasado, com os os defeitos e sem as virtudes do sistema. Aqui não se consegue nem copiar o que eles estão fazendo lá fora."