O Estado de São Paulo, n.46369, 30/09/2020. Política, p.A14

 

PF faz buscas em gabinete de Helder Barbalho no Pará

Pepita Ortega

Rayssa Motta

Fausto Macedo

30/09/2020

 

 

Operação mira desvios em contratos na área da Saúde e prende dois secretários; governo do Estado diz que apoia investigações

Duas operações deflagradas ontem – uma no Pará e outra em São Paulo – miram suspeitas de desvios na área da Saúde em meio à pandemia do novo coronavírus. No Pará, houve buscas no gabinete do governador Helder Barbalho (MDB), no Palácio dos Despachos. Em São Paulo, a Polícia Civil realizou apreensões na Câmara Municipal e na Secretaria de Saúde do Estado. Ao todo, nas duas ações, 76 investigados tiveram a prisão autorizada pela Justiça.

No Pará, a Operação S.O.S. prendeu o ex-chefe da Casa Civil e atual secretário de Desenvolvimento Econômico, Parsifal Pontes, o secretário de Transportes, Antonio de Padua, e o assessor de gabinete do governador, Leonardo Nascimento. Eles são suspeitos de integrar grupo que teria desviado recursos destinados à contratação de organizações sociais (OSS) para gestão de hospitais públicos do Estado, dentre eles hospitais de campanha.

A S.O.S. foi autorizada pelo ministro Francisco Falcão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). São alvo dos investigadores 12 contratos de R$ 1,28 bilhão firmados entre o governo paraense e OSS. Na representação enviada ao ministro do STJ, a Polícia Federal fala em "provável comando e controle da cadeia delitiva" por Helder.

"As investigações indicam que o governador tratava previamente com empresários e com o então chefe da Casa Civil Parsifal Pontes sobre assuntos relacionados aos procedimentos licitatórios que, supostamente, seriam fraudados, praticando prévio ajuste de condutas com integrantes do esquema e, possivelmente, exercendo função de liderança na organização criminosa", registra trecho transcrito na decisão de Falcão.

Preso ontem, Parsifal Pontes é apontado pela PF como operador do esquema. Durante busca e apreensão contra o secretário, foram encontrados, em sua residência, uma máquina de contar cédulas e "montante considerável de dinheiro em espécie". "A posse de tal equipamento é forte indicativo do manuseio de valores em espécie, que constituem meio frequente de pagamento de propina."

Outro alvo de mandado de prisão, Nicolas André Tsontakis Morais é apontado pela PF como o responsável por intermediar a ida de OSS para o Pará, "a fim de implementar o esquema criminoso de desvio de recursos públicos". De acordo com a PF, Morais usava identidade falsa, ganhou um carro de R$ 433 mil após interceder pelas OSS e apresenta um patrimônio de R$ 600 milhões.

O governo do Pará afirmou que "apoia qualquer investigação que busque a proteção do erário". As defesas dos outros citados não responderam até a conclusão desta edição.

SP. Em São Paulo, um dos alvos da operação foi um funcionário do gabinete do vereador Eliseu Gabriel (PSB). O vereador não é investigado. Agentes também estiveram na Secretaria de Saúde do Estado para vasculhar duas salas – a de uma médica e a de uma advogada.

Segundo a PF, os crimes sob investigação são fraude em licitações, falsidade ideológica, peculato, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Apuração

R$ 1,28 bi

é o valor de 12 contratos sob suspeita firmados entre o governo do Pará e Organizações Sociais (OSS) na área da Saúde.