Correio braziliense, n. 21043, 04/01/2021. Mundo, p. 10

 

Estreia crítica

04/01/2021

 

 

Os dois primeiros dias de 2021 sinalizam que o enfrentamento à covid-19 seguirá sendo um desafio de grandes proporções. Segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, na sexta-feira e no sábado, foram contabilizados, mais de 1,1 milhão de casos da doença e ao menos 17,6 mil mortes. Países e regiões mais atingidos definem estratégias para vacinar a população e reforçar o isolamento social, mas autoridades reconhecem que são grandes as dificuldades para conter uma crise sanitária em um mundo tão diverso e com um número cada vez maior de pessoas atingidas.

No sábado, a comissária Europeia da Saúde, Stella Kyriakides, admitiu que o início das campanhas de imunização foi ofuscado por "uma insuficiência global" na capacidade de produção de vacinas. Segundo ela, a União Europeia (UE) está "pronta a ajudar" a solucionar o problema. "A situação vai melhorar pouco a pouco, à medida que as vacinas forem distribuídas", avaliou. No mesmo dia, de acordo com o levantamento da Johns Hopkins, foram contabilizados mais de 624,7 mil casos da doença e pelo menos 8,2 mil mortes no mundo. O primeiro dia de 2021 teve mais óbitos: 9,4 mil, além de 539,2 mil novos infectados. O levantamento da universidade estadunidense não especifica os registros por país, mas sabe-se que os números são puxados pelos mais atingidos: Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, Brasil, Itália e Índia.

Ontem, o governo indiano aprovou, com urgência, o uso de duas vacinas contra a covid-19, abrindo caminho para uma das maiores campanhas de vacinação do planeta. A intenção do país com 1,3 bilhão de habitantes é imunizar 300 milhões de pessoas até meados deste ano. Para isso, o Serum Institute of India, maior fabricante mundial de vacinas, afirmou que está produzindo entre 50 milhões e 60 milhões de doses por mês da fórmula protetiva desenvolvida pelo grupo britânico AstraZeneca e Universidade de Oxford. A Índia é o segundo país mais afetado em número de casos (mais de 10,3 milhões) e o terceiro em luto, com cerca de 150 mil mortes.

Nação atingida pela crise sanitária — são ao menos 20,4 milhões de casos e 350 mil óbitos —, os Estados Unidos aumentaram o ritmo da campanha de vacinação e pretendem chegar a aplicar 1 milhão de doses diárias de imunizantes. A meta foi informada ontem, à rede de TV ABC, por Anthony Fauci, imunologista que assessora o governo americano no enfrentamento à pandemia. Ele também reconheceu que houve falhas no começo da campanha. Apenas 4,2 milhões de americanos receberam a primeira dose da vacina até agora — muito longe da meta do governo, de 20 milhões de pessoas até o fim de 2020.

Problemas parecidos são enfrentados por países da UE. O início das campanhas de vacinação na Europa foi alvo de muitas críticas pela lentidão, principalmente na França, e pelo fato de profissionais de saúde não serem vacinados prioritariamente, como ocorreu na Alemanha. O programa foi iniciado no último dia 27. Desde então, mais de 238 mil pessoas foram vacinadas na Alemanha, segundo o instituto de vigilância sanitária Robert Koch (RKI). Em outras nações, como França e Bélgica, apenas poucas centenas de pessoas receberam o imunizante.

Mais bloqueios
Em outra frente de combate à pandemia, as autoridades planejam intensificar as medidas de restrições sociais. O governo alemão, por exemplo, deve decidir, amanhã, pela extensão do bloqueio, em vigor até o próximo domingo.No restante da Europa, a região mais atingida pela pandemia, o retorno da normalidade também parece estar distante. A Dinamarca registrou 86 casos da nova variante do vírus, detectada pela primeira vez no Reino Unido. Com isso, tornou-se o país que mais casos reportou até o momento dessa nova cepa, considerada mais contagiosa. Segundo Tyra Grove Krause, responsável pela agência dinamarquesa de controle de doenças infecciosas, esse cenário "pode conduzir a uma curva epidêmica mais pronunciada (...), o que significa que será preciso intensificar as medidas de prevenção".

No Reino Unido, os planos são parecidos. Ontem, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, alertou que restrições mais severas poderão ser tomadas para combater o rápido avanço do novo coronavírus, atribuído, em parte, à nova variante. "É possível que tenhamos que fazer coisas nas próximas semanas que serão mais difíceis em várias partes do país", disse Johnson à rede BBC. No momento, 75% da população britânica está confinada, e a volta presencial às aulas foi adiada em lugares mais afetados pelo aumento das infecções, como Londres e o sudeste da Inglaterra.
Na América Latina, a Venezuela retomará, hoje, o plano de confinamento parcial após afrouxar os controles em dezembro. Na Bolívia, os números de casos de contágio em La Paz e em Santa Cruz (leste) não param de aumentar, o que levou as autoridades de ambos os departamentos a decretarem quarentenas parciais no feriado de ano-novo. Ontem, o governo peruano decidiu estender o fechamento das praias até o próximo dia 17, na tentativa de evitar multidões. Os planos iniciais eram de manter as medidas restritivas, iniciadas em 22 de dezembro, até hoje. "Avaliamos que as praias podem ser um potencial espaço de contágio se estivermos ao ar livre, em grupos, consumindo alimentos e bebidas. O uso de máscara e o distanciamento físico são negligenciados. Vimos vídeos e fotos nas redes sociais dos encontros, apesar de todos os riscos apontados", justificou a chefe de gabinete, Violeta Bermúdez, à rádio RPP.