Correio braziliense, n. 21044, 05/01/2021. Política, p. 2
Oposição fecha com Baleia Rossi
Sarah Teófilo
05/01/2021
Partidos de oposição, PT, PCdoB, PSB, PDT e Rede oficializaram, ontem, apoio ao deputado Baleia Rossi (MDB-SP) para a Presidência da Câmara, em eleição marcada para 1º de fevereiro. O emedebista vai concorrer contra o líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), candidato do presidente Jair Bolsonaro. Maior bancada da Casa, com 52 parlamentares, o PT se reuniu e a maioria (27 a 23) votou a favor de Rossi para postular a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O apoio dos petistas era de extrema importância para Rossi, que aguardava a definição para lançar a candidatura, o que deve ocorrer amanhã. A oficialização do nome será feita ao lado das legendas do bloco, capitaneado por Maia, que prega a independência da Casa em relação ao Executivo. No total, são 11 partidos, que somam 261 deputados.
Lira, por sua vez, tem respaldo de PL, PP, PSD, Republicanos, Solidariedade, Pros, Patriota, PSC e Avante, somando 195 deputados. O PTB também deve avalizar o político alagoano, conforme promessa do presidente nacional da legenda, Roberto Jefferson, o que acrescentará 11 parlamentares.
Havia resistência, dentro do PT, em relação ao apoio. Alguns integrantes eram favoráveis a uma candidatura própria, e as conversas foram individuais, para obter o convencimento. Pouco antes da reunião, o deputado Odair Cunha (MG) dizia defender candidatura própria dos partidos de esquerda, e a unificação com o bloco de Maia num eventual segundo turno.
Em carta, após confirmarem o apoio, as legendas de esquerda frisaram que o objetivo é ter uma Câmara independente. No documento, as siglas ressaltam que o governo federal é "irresponsável diante da pandemia" e que o país é "chefiado por um presidente da República que, ao longo de sua trajetória, sempre se colocou contra a democracia". "Nós, dos partidos de oposição, temos a responsabilidade de combater, dentro e fora do Parlamento, as políticas antidemocráticas, neoliberais, de desmonte do Estado e da economia brasileira", pontuaram.
Foi essa responsabilidade, segundo eles, que os uniu aos demais partidos do bloco de Maia, além da intenção de derrotar Bolsonaro "e sua pretensão de controlar o Congresso". Os partidos informaram, então, que a intenção é construir uma série de compromissos, com a intenção de "defender a Constituição", "proteger a democracia" e as instituições, "assegurar a soberania nacional", "garantir a independência do Poder Legislativo" e "lutar pelos direitos do povo brasileiro".
Os partidos pedem que questões como convocação de ministros para prestar contas na Casa e instalação de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) não sejam engavetadas, além de frisar o respeito ao processo legislativo constitucional e regimental, assegurar que a oposição poderá "exercer seu dever de contrapor-se ao governo tal qual garantem a Constituição e o regimento" e garantir que haja proporcionalidade na indicação de relatorias das matérias que tramitam.
Traições
Como há resistência em outras legendas também, como o PSB, está ocorrendo um intenso trabalho, por parte de líderes, de convencimento dos parlamentares, visto que a votação é secreta — ou seja, nada impede que um deputado não vote no candidato orientado por sua legenda. E é com isso que conta Arthur Lira para conseguir a vitória.
Líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ) não acredita que haverá traições na sigla. "Acho que o diálogo que temos tido é muito positivo. A receptividade tem sido muito boa, os colegas têm entendido que é importante o partido caminhar unido na defesa da independência da Câmara e da democracia brasileira. Seria grave que deputados do PSB descumprissem e colaborassem para entregar o comando da Câmara ao candidato do Bolsonaro", avaliou.
Vice-líder do PSB, Elias Vaz (GO) afirmou que continua no partido um processo de discussão e convencimento, na busca por uma unidade da bancada. Ainda em dezembro, o diretório nacional vetou, por 80 votos a 0, o apoio a Lira. Conforme o deputado, todas as legendas correm o risco de ter dissidentes. "Tem parlamentar do bloco do Lira, e já manifestou para mim, que vai votar no Baleia. É um processo que deve acontecer", destacou.
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Definição do Psol só dia 15
05/01/2021
As legendas de esquerda esperam que o PSol decida apoiar Baleia Rossi (MDB-SP) para a Presidência da Câmara, apesar de essa medida contrariar uma tradição histórica de lançar candidatura própria. O entendimento geral é de que avalizar qualquer outro nome será dar votos para Arthur Lira (PP-AL), candidato do presidente Jair Bolsonaro.
A líder Sâmia Bomfim (SP) disse ser favorável ao apoio a Baleia Rossi. De acordo com ela, não se trata de uma "questão de princípio, mas, sim, de uma questão tática". "Vai ser inevitável dar o voto a ele no segundo turno. É uma questão de analisar o cenário. E, para mim, o pior dos mundos é a Câmara ser presidida por um bolsonarista", frisou. "Seria mais difícil a nossa situação. A nossa prioridade maior é derrotar Bolsonaro e mostrar o movimento do PSol nesse sentido. E isso passa pela escolha da definição do candidato a presidente da Câmara."
Ao Correio, a parlamentar afirmou que uma reunião está marcada para o próximo dia 15, com a bancada, a fim de definir o caminho. Ela entende que o encontro poderia ser adiantado, mas também concorda que o assunto deve ser bem debatido internamente, sem atropelos. A bancada tem 10 deputados.
Líder do PCdoB, Perpétua Almeida (AC) ressaltou que "não é hora de marcar posição". "É hora de ajudar a derrotar uma agenda negacionista e reacionária. É muito importante a Câmara ser independente. Marcar posição é tirar voto da esquerda ou do centro", avaliou. Vice-líder do PSB, Elias Vaz (GO) opinou que "lançar candidatura própria, hoje, é fortalecer Arthur Lira". "Esse é o desejo do Lira: enfraquecer um bloco que é forte", emendou.
As votações
Para ganhar a eleição à Presidência da Câmara, o candidato precisa ter a maioria dos votos dos 513 deputados, ou seja, 257 votos em primeira votação, ou ser o mais votado em segundo turno. Os blocos de apoio às candidaturas são formalizados apenas no dia da eleição, em 1º de fevereiro, e valem para a distribuição dos demais cargos da Mesa Diretora.
No dia, são eleitos, além do presidente, dois vice-presidentes, quatro secretários e quatro suplentes. No bloco de Baleia Rossi, PT deverá ficar com a primeira escolha dos cargos na Mesa. Na sequência, PSL, PSB e PSDB.
Já no caso de Arthur Lira, o PL está na chapa com o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) disputando a vice-presidência. Além de Baleia e Lira, a corrida pelo comando da Câmara tem, como candidatos independentes — sem o apoio oficial de partidos — os deputados Fábio Ramalho (MDB-MG) e Capitão Augusto (PL-SP).
Sâmia, porém, não concordou que o PSol daria votos a Lira ao lançar candidatura própria, visto que o nome apoiado pelo chefe do Executivo não terá voto de nenhum deputado da legenda. "Vamos atuar para derrotar Bolsonaro", enfatizou. (ST)