Título: Brasil e Colômbia estreitam laços
Autor: Gerk, Cristine
Fonte: Jornal do Brasil, 25/10/2008, Internacional, p. A23

Relação é reforçada por acordos econômicos e troca de experiências

Cristine Gerk

Tráfico de drogas, desordem urbana, favelização, confrontos no campo, desejo de expandir relações comerciais e ganhar mercados, avanço econômico. Embora a Colômbia tenha extensão territorial menor que a de São Paulo, as semelhanças entre o vizinho e o Brasil são imperativas, com uma diferença importante: nos últimos seis anos, o número de colombianos armados caiu de 60 mil para 13 mil graças a um esquema de segurança que privilegiou a ação social no país. Agora, o gigante parece ter muito a aprender com o colega. E as relações entre os dois se fortalecem em ritmo acelerado.

Destacando o país latino como um importante alvo de investimento brasileiro, o embaixador da Colômbia no Brasil, Tony Jozame Amar, enumera nesta entrevista ao Jornal do Brasil as possibilidades de trocas econômicas e políticas entre os dois países, sobretudo nos campos energéticos e de biocombustíveis. Amar lista os acordos assinados este ano, e vislumbra as possibilidades do campo bilateral.

Como o senhor avalia a relação entre Brasil e Colômbia hoje?

Desde que cheguei, há 10 meses, houve grande avanço. O presidente Lula esteve em Bogotá duas vezes, e foram feitos acordos de luta contra o tráfico de drogas, armas e mulheres. Há convênios para benefícios dos povos de fronteira em saúde, educação, infra-estrutura, aquedutos, saneamento básico e eletrificação, além de acordos comerciais e tecnológicos importantes, como o entre Senai e a colombiana Sena.

A perspectiva é de avanço?

No ano passado, a Colômbia vendeu ao Brasil US$ 470 milhões em produtos. Este ano vamos vender entre US$ 800 e 900 milhões. Há grande empresários brasileiros no país, como Votorantim, Ocean Air, Gerdau, Odebrecht, Tigre, e outros já interessados. O turismo está crescendo muito entre os dois.

O modelo de segurança adotado na Colômbia é aplicável ao Brasil?

A normalização na Colômbia das favelas se fez sobre uma base: recuperar o território com a autoridade do Estado. É preciso arrumar todo o entorno urbanístico da área, energia, aqueduto, telefone, habitações, construções de escolas, postos de saúde, centros de trabalho e de capacitação, bibliotecas. E é importante privilegiar uma política de assistência social direta a crianças e mães solteiras. Para fazer isso é preciso ter decisão política, e pedir verba federal, estadual, municipal e privada. Houve processos de paz e outros de enfrentamentos. Usamos o pagamento de recompensas para as informações prestadas pela comunidade. Cabe a cada país escolher seus caminhos, não posso dizer se isso tudo se aplica ao Brasil ou não.

Quais as oportunidades de investimento para nós na Colômbia?

Hoje, produzimos 2 milhões de litros de etanol e biodísel, mas queremos chegar a 10 milhões. Os brasileiros podem comprar terras lá. Outros investimentos bons são em hotelaria, siderurgia e educação à distância. A Colômbia tem topografia, geografia e águas para construir hidrelétrica e exportar energia. O Brasil pode se aproveitar disso e de compras de participação de empresas da área, como já tem ocorrido. Há países que estão se fechando para empresas estrangeiras, numa política de estatização. Não é nosso caso.

E quanto às oportunidades para os colombianos?

No Brasil, podem comprar terras para plantar soja e cana para produzir biocombustíveis. Há Estados como Tocantins, que é novo e vai se desenvolver muito. Os colombianos podem ter investimentos também em cultura e na indústria têxtil.

Como a Colômbia enfrenta a crise econômica atual?

O país está construindo um aparato produtivo forte há anos. A economia antes era sustentada em capitais especulativos, instáveis. O nosso banco central tem uma política ortodoxa. A maioria dos membros da junta diretiva não é do governo. Temos boas relações com órgãos financeiros internacionais também, para o caso de precisarmos de crédito. E estamos expandindo parceiros comerciais.

O senhor considera o Brasil um líder no continente?

A Colômbia confia muito no Brasil e sente empatia pelos brasileiros. O país tem a metade do território do subcontinente, e uma política de conciliação. Agora vem a Unasul, para mim é consolidação da região, com a criação do Parlamento e até de uma moeda para o bloco.