Título: Custa caro manter os cofres do país cheios
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 26/10/2008, Economia, p. E1

O presidente do BC, Henrique Meirelles, defende o incremento das reservas cambiais desde 2003, no início do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, depois da crise asiática de 1997, as nações encaram o acúmulo de reservas e a saúde fiscal como vacinas eficazes frente às crises da economia.

Mas a vacina das reservas tem preço. E não é barato. Só em 2007, para chegar ao final do ano com US$ 181 bilhões, o governo brasileiro teve uma perda contábil de R$ 47 bilhões.

¿ O diferencial de carregamento gera um passivo em reais ¿ diz Volpon, da CM.

A perda é explicada pela diferença entre os títulos que compra e vende na operação de carregamento das reservas. Para comprar dólares, o Banco Central vende títulos que rendem juros de 13% ao ano. Com os reais obtidos na transação, compra dólares que são aplicados em títulos do tesouro americano, que rendem menos de 5% ao ano.

As perdas não abalam Meirelles, que costuma justificar o preço recorrendo à analogia com a compra de um seguro que, na ausência do sinistro, é caro, mas, diante do pior, torna-se barato.

Em nota oficial sobre o resultado negativo, no final de 2007, o BC informou que, por ser o detentor dos passivos cambiais, o Tesouro Nacional é beneficiado pela operação, pois o resultado é refletido na dívida externa pública, que despencou do pico de US$ 138,6 bilhões, no início do governo Lula, para US$ 58,6 bilhões em agosto de 2008.

¿ É um custo alto manter reservas, pagamos caro ¿ diz Simoens, ex-chefe de departamento do BC. ¿ Mas uma coisa é o preço das reservas e outra a necessidade de tê-las. Precisamos mantê-las altas para desestimular a especulação. Sem elas, o dólar já teria chegado a R$ 4.

A diferença entre as cotações recentes e as dos últimos meses é lembrada pelo professor de finanças do Ibmec São Paulo, Juan Jensen.

¿ As reservas funcionam como um seguro e o seguro custa dinheiro. Carregar as reservas tem um custo fiscal ¿ explica. ¿ Mas, no momento atual, o BC está se desfazendo dos custos fiscais, vendendo a R$ 2,20, R$ 2,30 o que comprou a valores bem mais baixos.

Jensen foi uma das vozes críticas ao volume acumulado pelo BC. No início de 2007, o professor disse que diante das condições extremamente favoráveis das contas externas, "talvez US$ 100 bilhões fosse muito". Hoje, o economista diz que "a reserva está se mostrando importante num momento de grande crise porque há falta de dólares", mas segue convicto, baseado em estudos, que o bom teto é cerca de 10% do PIB.

¿ Ou seja, temos um excesso de US$ 50 bi, que nos garante tranqüilidade.