Título: Recursos não vão acabar, mas crise deve causar redução
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 26/10/2008, Economia, p. E1

Fluxos na economia brasileira são suficientes para fazer frente a gastos

Se o atual cenário de volatilidade e estrangulamento do crédito for mantido, as reservas brasileiras vão durar até quando? Mesmo diante do volume acumulado pelo Banco Central, Luis Afonso Simoens não tem dúvidas que os recursos podem se esvair rapidamente. E o destino pode ser o pagamento do déficit em transações correntes.

¿ Não é muito dinheiro este acumulado de US$ 200 bilhões, não. Nosso déficit em transações correntes está muito grande este ano ¿ diz o economista e ex-chefe do departamento de organismos e acordos internacionais do BC.

Entre janeiro e setembro de 2007, as transações correntes tiveram superávit de US$ 3, 600 bilhões de dólares, o que equivale a 0,37% do Produto Interno bruto (PIB). No mesmo período de 2008, o total é de US$ 23,3 bilhões negativos, uma virada de US$ 27 bilhões, com deterioração fortíssima, na casa de 1,95% do PIB.

¿ Ora, o que isto quer dizer? Como financiamos estes US$ 23 bilhões de déficit? Os empréstimos em moeda estão sumindo. Se a nossa conta co mercial zerar, vamos ter déficit superior a US$ 40 bilhões na conta de serviços e, se não houver dinheiro no mundo, quem é que pode garantir os pagamentos? São as reservas ¿ diz Simoens.

A finitude dos recursos é descartada pelo professor de finanças do Ibmec São Paulo, Juan Jensen.

¿ De modo algum, as reservas não vão acabar. Teremos mais de US$ 200 bilhões e o déficit em conta corrente pode chegar ficar entre US$ 27, US$ 30 bilhões de dólares, mas temos fluxos na economia brasileira suficientes para fazer frente a estes gastos. Não há risco nenhum das reservas acabarem.

Para Antonio Correa de Lacerda, professor de economia da PUC de São Paulo, o BC está usando bem e preservando os recursos, especialmente ao atuar mais no mercado futuro.

¿ Ao fazer isto não estará favorecendo a saída de capitais. É adequado atuar mais no mercado futuro e não no mercado à vista para preservar as reservas ¿ diz Lacerda. Para o acadêmico, o caixa torna a posição brasileira mais confortável. ¿ Sempre defendi mais reservas, proporcionalmente ao tamanho da nossa economia.