O globo, n. 31926, 03/01/2021. País, p. 4

 

Futuro após a reeleição

Sérgio Roxo

03/01/2021

 

 

Governadores no segundo mandato miram Senado e chapa presidencial

 Sem a chance de disputar um novo mandato, por terem sido reeleitos em 2018, governadores de dez estados já começaram a estruturar os planos para o futuro, que passam por disputas ao Senado e até mesmo articulações para a eleição presidencial. Em alguns casos, a necessidade de manutenção de alianças locais pode empurrar os atuais governantes para um período fora da política.

O grupo de governadores que não podem concorrer novamente é formado por Belivaldo Chagas (PSD), de Sergipe; Camilo Santana (PT), do Ceará; Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão; Mauro Carlesse (DEM), do Tocantins; Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco; Reinaldo Azambuja  (PSDB), do Mato Grosso do Sul; Renan Filho (MDB), de Alagoas; Rui Costa (PT), da Bahia; Waldez Goés (PDT), do Amapá; e Wellington Dias (PT), do Piauí.

Caso optem por disputar qualquer cargo, os chefes dos executivos estaduais serão obrigados a renunciar até abril de 2022. Citado como um nome para concorrer ao Palácio do Planalto, Flávio Dino prefere deixar em aberto o posto que disputará. Ele enxerga o Senado como um caminho natural, mas admite tentar uma vaga de deputado federal  para ajudar o PCdoB as up erara cláusula de barreira no ano que vem.

Para terem acesso aos recursos do fundo partidário e ao tempo de propaganda em rádio e televisão, as legendas precisarão alcançar 2% dos votos válidos na eleição para a Câmara, distribuídos em pelo menos nove estados, com no mínimo 1% em cada um deles. Outra alternativa é eleger 11 deputados, divididos em um terço das unidades da Federação. —O plano mais forte hojeéa candidatura ao Senado, porque depende só de mim. Eleição

nacional não depende de mim, então não é plano. Para a Presidência da República, tem que ter um grupo (apoiando), e a vice ninguém se candidata. Essas são possibilidades que dependem mais dos outros. Agora, se houver a opção do PCdoB por tentar conseguir atingir a cláusula de barreira sozinho, eu cumpro a decisão partidária. Já até disse isso numa reunião com a direção nacional —afirma Dino.

O baiano Rui Costa também tem em vista uma candidatura presidencial, apesar de não tratar do tema abertamente. Caso não consiga se viabilizar dentro do PT, ele não deve disputar um outro cargo para preservar o bloco de apoio ao partido na Bahia. Se fosse concorrer ao Senado, Costa poderia enfrentar o senador Otto Alencar (PSD), um aliado histórico dos petistas, cujo mandato termina em 2022 — haverá apenas uma vaga em disputa. Situação semelhante vive Waldez Góes.

O governador do Amapá mantém uma parceria política como presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), que também verá o seu mandato chegara o fim em 2022. Góes avalia o quadro, e uma possibilidade é não disputar a próxima eleição. O governador de Pernambuco é outro que pode se afastar da política. O amplo leque de alianças construído pelo PSB em Pernambuco também dificulta o caminho para Paulo Câmara. Como  nacional não depende de mim, então não é plano. Para a Presidência da República, tem que ter um grupo (apoiando), e a vice ninguém se candidata. Essas são possibilidades que dependem mais dos outros. Agora, se houver a opção do PCdoB por tentar conseguir atingir a cláusula de barreira sozinho, eu cumpro a decisão partidária. Já até disse isso numa reunião com a direção nacional —afirma Dino.

O baiano Rui Costa também tem em vista uma candidatura presidencial, apesar de não tratar do tema abertamente. Caso não consiga se viabilizar dentro do PT, ele não deve disputar um outro cargo para preservar o bloco de apoio ao partido na Bahia. Se fosse concorrer ao Senado, Costa poderia enfrentar o senador Otto Alencar (PSD), um aliado histórico dos petistas, cujo mandato termina em 2022 — haverá apenas uma vaga em disputa. Situação semelhante vive Waldez Góes. O governador do Amapá mantém uma parceria política como presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), que também verá o seu mandato chegara o fim em 2022. Góes avalia o quadro, e uma possibilidade é não disputar a  próxima eleição. O governador de Pernambuco é outro que pode se afastar da política.

O amplo leque de alianças construído pelo PSB em Pernambuco também dificulta o caminho para Paulo Câmara. Como o partido pretende indicar um candidato ao governo, precisaria ceder os postos de vice e de senador na chapa para manter o apoio de outras legendas. Diante do quadro, aliados acreditam que o governador pernambucano cumprirá o mandato à frente do estado até o fim. Técnico de carreira do Tribunal de Contas estadual, Câmara se candidatou em 2014 após ser indicado pelo ex-governador Eduardo Campos — ele havia comandado as secretarias de Administração, Turismo e Fazenda. Mesmo com a reeleição em 2018, ele nunca demonstrou, segundo pessoas próximas, ter ambições maiores. Porém, em dezembro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), em entrevista ao GLOBO, citou o governador de Pernambuco como um possível nome para a disputa presidencial, o que animou uma parte de seus auxiliares.

NOMES TRADICIONAIS

Em outros estados, os governadores se preparam para enfrentar, na luta por uma vaga no Senado, nomes tradicionais da política local, mas de campos adversários. Em Alagoas, Renan Filho deve ter como oponente o ex-presidente Fernando Collor (Pros). Os aliados do governador dão como certa a candidatura a senador. Se eventualmente sair vitorioso, Renan integraria a bancada junto com seu pai, Renan Calheiros, que tem mandato até 2026.

No Ceará, o dono da vaga no Senado almejada por Camilo Santana é Tasso Jereissati (PSDB). A expectativa é que o tucano se aposente da política. Apesar de um movimento nas redes sociais defender uma candidatura à Presidência, o governador não cogita, no momento, essa hipótese — filiado ao PT, Camilo é um forte aliado do presidenciável Ciro Gomes (PDT). Caso concorra ao Senado, plano considerado certo entre os políticos do Tocantins, Mauro Carlesse pode ser obrigado a enfrentar Kátia Abreu (PP). Também na disputa por uma vaga no Senado, o governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, deve ter a senadora Simone Tebet (MDB) como adversária. Já Wellington Dias, que está em seu quarto mandato como governador do Piauí — já havia ocupado o cargo entre 2003 e 2010 —, defende uma aproximação do PT com os partidos de centro para 2022 e cogita buscar um espaço no Legislativo, apesar de, internamente, também colocar o próprio nome à disposição para a corrida à Presidência.

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Experiência e conciliação ditam o ritmo das ações

Marco Grillo

03/01/2021

 

 

Em um espaçoso gabinete, um experiente senador foi taxativo ao responder a uma insistente pergunta sobre como os colegas reagiriam a mais um conflito entre o presidente Jair Bolsonaro e o Congresso —o diálogo foi travado ainda no período anterior à aliança com o centrão.

“Eu e muitos outros aqui (no Senado) já fomos governadores, temos estrada. Esse tipo de briga não leva a nada”, desdenhou, pontuando o que via como falta de experiência da ala da Câmara mais envolvida com a disputa da ocasião. Dezessete dos 81 senadores já passaram pela cadeira de governador, e um dos nomes da lista, Fernando Collor (Pros-AL), também foi presidente — a Casa é um destino desejado pelos chefes dos executivos estaduais impedidos de tentar um novo mandato no ano que vem. A renovação ocorrida na eleição de 2018, quando 24 titulares do Senado não conseguiram se reeleger, apesar de um sinal eloquente, não mudou o rumo da Casa, conhecida pela postura conciliatória. Eleito presidente no início da atual legislatura com o apoio do grupo “Muda Senado”, Davi Alcolumbre logo passou a se aconselhar com Renan Calheiros (MDB-AL), ex-adversário com 25 anos de mandato no currículo. Foi também a Alcolumbre a quem o Palácio do Planalto recorreu nos momentos de temperatura mais elevada, papel que o ex-ministro Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência), hoje no Tribunal de Contas da União (TCU), reconheceu publicamente na semana passada. O revés do presidente do Senado no Supremo Tribunal Federal (STF) —a Corte vetou a reeleição das Mesas Diretoras do Congresso na mesma legislatura —, no entanto, movimentará a Casa neste início de ano e tem o potencial de abalar, mesmo que temporariamente, a coesão interna. Ainda sem um nome capaz de criar consenso entre os senadores mais influentes, Alcolumbre vem atuando pela eleição de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), senador de primeiro mandato, e tenta, inclusive, atrair o governo Bolsonaro para a candidatura.

Na outra ponta, o MDB —dos 13 senadores da bancada, cinco já foram governadores — anunciou que terá candidato e trabalha com quatro possíveis nomes: Eduardo Braga (AM), Eduardo Gomes (TO), Fernando Bezerra Coelho (PE) e Simone Tebet (MS). Em um ambiente onde a experiência é valorizada — há quem chame os congressistas novatos de “Menudos”, referência carregada de ironia —e os desentendimentos não vêm a público com frequência, a opção preferencial é por um processo eleitoral interno que não deixe sequelas. O inesperado veto do STF à recondução de Alcolumbre inaugurou a temporada de articulações. Resta saber se o caminho das próximas semanas manterá a tradição, no tom ditado pela “bancada dos governadores”, ou provocará mudanças no equilíbrio de forças.