Título: Investimentos da Petrobras serão afetados pela crise
Autor: Totinick, Ludmilla
Fonte: Jornal do Brasil, 26/10/2008, Economia, p. E7

Para especialistas, preço do barril deve ficar entre US$ 70 e U$90

Ludmilla Totinick

Especialistas previam que o preço do barril do petróleo facilmente chegaria aos US$ 200 este ano. Porém, a crise veio como um tsunami e jogou os preços do produto lá em baixo. Esta semana, a cotação já valia menos da metade do que chegou a custar em julho, US$ 147,7. Possivelmente, a mesma onda vai influenciar os planos da Petrobras e prejudicar os investimentos do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e da refinaria Premium, a ser instalada no Maranhão, de acordo com a previsão de Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.

¿ A redução do preço vai influenciar a receita da Petrobras. Com o valor menor do barril de petróleo, conseqüentemente, a estatal vai ter uma receita menor e, provavelmente, vai adiar os investimentos da refinaria e do Comperj ¿ acredita Pires.

Trajetória

De acordo com o especialista, a queda do preço não é ruim para o Brasil, pois só importamos 15% do nosso consumo. Ele também diz que o pré-sal deve ser mantido.

¿ Como os investimentos fortes da camada serão em 2010, imagino que a companhia fará um estudo, no próximo ano, para analisar o comportamento do preço do combustível e verificar a possibilidade de mantê-lo ¿ alerta Pires. ¿ Acho que esse bilhete premiado, como o presidente Lula se refere ao pré-sal, vai demorar a ser descontado, se depender da recessão mundial.

Ele lembra ainda que o valor do óleo é regulado pela demanda, e a tendência devido à situação atual é de que ele diminua de preço.

¿ O barril deve ficar em torno de US$ 75 até o fim do ano ¿ aposta o especialista. ¿ Em 2010, a economia voltará a crescer e o valor ficará em torno de US$ 80 ou US$ 90. Sem a crise os preços estavam muito especulativos.

Pires vê com receio a tentativa da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de tentar controlar a produção de petróleo por conta da grande queda dos preços. Para ele, a Opep é um cartel que só funciona quando o preço do barril sobe.

¿ Os países membros têm realidades muito distintas. Você imagina a Venezuela cortando a produção? Como o Hugo Chávez vai financiar aquele país se a única receita que ele tem é o petróleo. O acordo será cumprido oficialmente, mas na prática isso não vai acontecer ¿ antecipa Pires.

Rafael Schechtman, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, reforça a tese de que a alta do barril possibilitou às empresas aumentarem seus investimentos em novas tecnologias, mas isso vai ser diferente.

¿ Essa mudança, a queda dos preços, deve aparecer no balanço de fim de ano da Petrobras ¿ diz Schechtman. ¿ A companhia gasta US$ 35 ou US$ 36 para produzir um barril, por isso não terá prejuízo.Mas o preço da gasolina deverá ficar mais caro que o valor cobrado nos Estados Unidos.

Schechtman faz questão de ressaltar que o ciclo de preço do combustível faz parte da economia mundial.

¿ Assim como as outras bolhas estouraram, aconteceu com o petróleo. O valor era resultado de uma expectativa do crescimento mundial, uma relação entre oferta e demanda, ou seja, com aumento da demanda os preços subiam ¿ observa Schechtman. ¿ Porém, atualmente os altos valores não foram capazes de frear o crescimento da economia e eles só diminuíram em função do abalo financeiro.

¿ Crises de petróleo eram responsáveis por crises econômicas. A da década de 70 foi motivada pela do petróleo. A da década de 80 também ¿ ressaltou. ¿ A tendência era desesperadora, se não houvesse o estouro da bolha.

Schechtman lembrou ainda que, no passado, grande parte da utilização de petróleo era dos países desenvolvidos. Porém, atualmente, o crescimento do consumo do combustível é 80% devido ao crescimento dos países emergentes.

Outro ponto destacado por ele é que a demanda continuava aquecida mesmo com o aumento das tarifas.

¿ Enquanto o valor do petróleo subia, no Brasil, na China e na Índia não havia repasse no preços dos produtos derivados do óleo (gasolina, óleo diesel e etc.) e com isso a procura continuava intensa ¿ observa o especialista.

Ele ressalta que não há capacidade de fiscalização da produção de petróleo e por isso qualquer acordo pode ser facilmente descumprido.

Jean-Paul Prates, analista e atualmente secretário estadual de Energia do Rio Grande do Norte, disse que tinha certeza da alta do petróleo desde que os Estados Unidos invadiram o Iraque.

¿ O custo do petróleo era totalmente inexplicável, uma alta de preços sem referência com a realidade. O valor justo é ficar entre US$ 70 e US$ 80. Estudos antigos previam o barril entre US$ 18 e US$ 30, então ficar numa faixa de US$ 60 não é ruim ¿ diz Prates. ¿ Temos de ter noção de que passamos sete anos com alta do preço, quem tinha projetos em energia eólica conseguiu se consolidar bem, o biocombustível, o próprio álcool conseguiu se firmar.