Título: Ousadia tem preço, diz ministro
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/10/2008, Economia, p. A17

Mantega afirma que governo não vai salvar empresas: rombo "é perfeitamente absorvível"

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu nesta segunda-feira que a economia mundial caminha para a recessão, mas ressaltou que o governo brasileiro está tomando medidas para conter o impacto no país. Ele também afirmou que o prejuízo de empresas com derivativos de câmbio, estimadas em US$ 20 bilhões, é "perfeitamente absorvível" pela economia brasileira.

Mantega ressaltou que o governo "não vai salvar nenhuma empresa" de perdas com operações no mercado financeiro, mas ponderou que irá garantir crédito a essas companhias.

¿ As empresas que ousaram no mercado futuro (de câmbio) têm que pagar o preço de sua ousadia e não será o governo que vai cobrir isso. Agora, o governo tem obrigação de dar crédito e liquidez a valores de mercado ¿ disse Mantega a jornalistas após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em São Paulo.

Na sexta-feira, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse que o banco de fomento iria ajudar empresas que tiveram problemas com derivativos cambiais.

O ministro citou as três empresas que, segundo ele, tiveram os maiores prejuízos com as operações de derivativos ¿ Aracruz, Votorantim e Sadia ¿ e relatou que a Aracruz deve equacionar o problema nos próximos dias.

O ministro acrescentou que as medidas que o Banco Central vem tomando nas últimas semanas estão servindo para recompor o crédito, mas lembrou que algumas não têm impacto imediato.

¿ É quase certo que haverá uma retração na atividade econômica (mundial) e até mesmo uma recessão ¿ disse. O impacto aqui no Brasil continua o mesmo. Temos uma escassez de crédito para operações de ACC (Adiantamentos de Contratos de Câmbio). Estamos preocupados também com a irrigação de crédito no setor agrícola, que precisa de recursos nesta época do ano. Estamos ativando linhas para isso ¿ acrescentou, referindo-se a medidas já anunciadas.

Ele mostrou preocupação também com o capital de giro para pequenas e médias empresas e para a indústria automobilística. Depois da reunião com os ministros, Lula encontrou-se com o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider. A Presidência não divulgou informações sobre a reunião.

Com a redução do depósito compulsório, estaria havendo, segundo o ministro, uma liberação de R$ 50 bilhões na economia.

¿ Algumas medidas demoram um pouco porque é a primeira vez que nós estamos tomando, medidas que havia muito tempo não se fazia, e tivemos que aperfeiçoar os instrumentos.

Mantega disse ainda que parte do impacto da crise financeira mundial no Brasil é psicológico e que o consumidor não pode ter medo de ir às compras. Dando um exemplo pessoal, afirmou que está comprando um imóvel que será pago em 8 ou 10 parcelas. Mas a operação será feita diretamente com o proprietário e não por intermédio de um banco.

¿ Eu estou comprando um imóvel. Nós devemos procurar ter uma vida normal. Se todo mundo ficar preocupado e ficar com medo, aí é que vai criar um problema econômico, porque as pessoas vão deixar de consumir e vão reduzir o nível de atividade.