O Estado de São Paulo, n.46373, 04/10/2020. Política, p.A7

 

Após atritos, Aras se reúne com forças-tarefa

Rayssa Motta

04/10/2020

 

 

Procurador-geral e integrantes dos três grupos que compõem a Operação Lava Jato se encontram em Brasília

Após meses de fogo cruzado, as forças-tarefa da Lava Jato e o procurador-geral da República, Augusto Aras, se reuniram pela primeira vez na sexta-feira passada. O encontro em Brasília teve participação de integrantes dos três grupos de trabalho que compõem a operação – Alessandro de Oliveira (Curitiba), Eduardo El Hage e Almir Sanches (Rio de Janeiro) e Viviane Martinez (São Paulo).

Pivô do processo que busca garantir na Justiça acesso a informações sigilosas dos grupos de trabalho, a subprocuradora-geral Lindôra Araújo, braço direito de Aras, também esteve presente na reunião. Ela foi a enviada do procurador-geral a Curitiba para vasculhar os bancos de dados conservados pelos procuradores do Paraná, berço da operação.

No encontro, os coordenadores da Lava Jato em cada Estado falaram sobre o andamento dos trabalhos e sobre as necessidades locais para a manutenção das investigações em curso. A urgência é maior em São Paulo, onde os procuradores se desligaram maciçamente no fim do mês passado por discordância com a chefe, a procuradora Viviane Martinez.

Segundo informou o Ministério Público Federal, Aras e Lindôra "garantiram apoio institucional à continuidade dos trabalhos". Para São Paulo, serão enviados novos membros e assessores. Ao Rio, foi prometida ampliação da assessoria técnica.

Modelo. Outra pauta da reunião foi a remodelação das forças-tarefa. A cúpula do Ministério Público Federal vinha discutindo a possibilidade de reunião dos grupos de trabalho sob comando único sediado em Brasília. O projeto criaria a Unidade Nacional de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Unac), subordinada ao procurador-geral, para atuar no combate à corrupção, a atos de improbidade administrativa e ao crime organizado.

Com a resistência dos investigadores, que veem risco de perda de autonomia com a unificação, uma segunda proposta vem ganhando corpo: a de ampliação do modelo dos Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaecos) como forma de absorver as forças-tarefa da Lava Jato. Atualmente, existem Gaecos federais em Minas Gerais, Paraíba e Paraná.

A reunião marca o primeiro movimento de aproximação entre o chefe do Ministério Público Federal e os grupos de investigação desde que Aras disparou críticas públicas à Lava Jato. O procurador-geral chegou a defender a necessidade de superar o "lavajatismo", levantou suspeitas sobre o volume de informações mantidas pela forçatarefa de Curitiba e os critérios usados para obtê-las. Também falou em corrigir "desvios".