O Estado de São Paulo, n.46374, 05/10/2020. Política, p.A8

 

Redes e ministros já encarnam projeto de Bolsonaro para 2022

Tânia Monteiro

Jussara Soares

05/10/2020

 

 

Com grupos atuantes no Facebook, aliados de presidente repetem estratégia que ajudou a elegê-lo em 2018 e articulam reeleição

Apoio. Em suas frequentes viagens ao Nordeste, o presidente Bolsonaro sempre provoca aglomerações, como em São José do Egito (PE), semana passada

 Frequentador assíduo do Palácio do Planalto, o deputado Hélio Lopes (PSL-RJ) engrossou o coro da reeleição do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais. Ao responder à jogadora de vôlei de praia Carol Solberg, que gritou "Fora Bolsonaro" após ganhar medalha de bronze, o deputado escreveu #Bolsonaroaté2026 em sua conta no Twitter, com 295 mil seguidores.

Somente no Facebook, plataforma utilizada pelo presidente para postar suas lives semanais, mais de 30 grupos estão ativos defendendo a reeleição dele. "Bolsonaro 2022", por exemplo, tem quase 170 mil seguidores; "Bolsonaro Presidente 2022" tem 106 mil, "Fechados com Bolsonaro 2022" atinge 68 mil e "Somos 57 milhões de Bolsonaro 2022", 53 mil. Nas demais mídias sociais não é diferente: existem inúmeros grupos de apoiadores no Whatsapp e no Twitter.

O movimento das redes foi um dos principais condutores da vitória de Bolsonaro na campanha de 2018 pelo Palácio do Planalto. Agora, a dois anos da próxima disputa, aliados do presidente já articulam a renovação do projeto de poder. O post de Hélio Lopes revelou alguns desses grupos de apoio nas redes e, entre eles, #Bolsonaroaté2026 vem ganhando cada vez mais adeptos.

O deputado, porém, desconversa quando questionado sobre o tema, dizendo que é "muito cedo para falar de reeleição". Na prática, porém, a construção da nova candidatura de Bolsonaro segue em ritmo acelerado. No dia 29 de agosto, por exemplo, o ministro das Comunicações, Fabio Faria, publicou no Twitter uma mensagem acompanhada da foto de Bolsonaro em uma inauguração de obra no Rio Grande do Norte. Nela, Faria escreveu que o presidente está "crescendo e impondo sua agenda de campanha".

Ao Estadão, o ministro afirmou, depois, que se referia ao cumprimento de promessas feitas em 2018. "A pessoa promete na campanha, se elege e cumpre. A ordem é essa. As promessas do próximo mandato ele fará na campanha de 2022. E entregará após a eleição", disse Faria.

A construção do projeto da reeleição passa pela disputa municipal de novembro. Em São Paulo, por exemplo, Bolsonaro apoia a candidatura do deputado Celso Russomanno (Republicanos) para a sucessão do prefeito Bruno Covas (PSDB). O acordo com Russomanno – hoje em primeiro lugar, com 26% das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope/estadão/tv Globo – foi definido depois do movimento desencadeado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), padrinho de Covas. Doria ajudou a fechar o acordo com o MDB. Com isso, o vereador Ricardo Nunes (MDB) se tornou vice de Covas.

A estratégia deixou evidente para Bolsonaro que o PSDB, o MDB e o DEM estarão unidos na disputa pela presidência da Câmara, em fevereiro de 2021, e podem compor uma aliança ainda maior em torno de Doria na corrida ao Planalto, em 2022. O governo começou a agir, então, para rachar o MDB. O publicitário Elsinho Mouco, que trabalhou como marqueteiro do ex-presidente Michel Temer e do partido, cuidará agora dos programas de rádio e TV de Russomanno.

Popularidade. As últimas pesquisas com a avaliação do governo animaram o Palácio do Planalto. Levantamento do Ibope feito entre os dias 17 e 20 de setembro indicou que 40% dos brasileiros consideram a administração Bolsonaro ótima ou boa, 11 pontos a mais do que em dezembro de 2019. O índice é o maior desde o início do mandato.

"Minha crescente popularidade importuna adversários e grande parte da imprensa, que rotulam qualquer ação minha como eleitoreira. Se nada faço, sou omisso. Se faço, estou pensando em 2022", afirmou o presidente, no dia 28. Era uma referência à briga sobre como financiar o Renda Cidadã, programa que vem sendo desenhado para substituir o Bolsa Família.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, também embarcou no projeto da reeleição. Em recente reunião com deputados, Guedes disse que o Renda Cidadã era "dinheiro na veia do povo", como mostrou o Estadão. Na sexta-feira, porém, diante do mau humor do mercado e de novas divergências com o ministro

do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, Guedes comprou mais uma briga. "Você furar o teto (de gastos) para fazer política, para ganhar eleição (...), isso é irresponsável com as futuras gerações", criticou o chefe da equipe econômica.

O crescimento de Bolsonaro ocorreu na esteira da liberação do auxílio emergencial, que, mesmo com o valor reduzido pela metade (de R$ 600 para R$ 300), será pago até dezembro – daí a preocupação do Planalto do que pode ser feito para injetar "dinheiro na veia" sem ferir o ajuste fiscal. Depois da ajuda mensal, a aprovação do governo aumentou no Nordeste, antigo reduto do PT e região mais atendida pelo benefício. "Com certeza o eleitorado vai reconhecer isso nas próximas eleições. A política de transferência de renda será importante para o presidente em 2022", disse o deputado Hugo Motta (Republicanos-pb), que recentemente viajou com Bolsonaro para Coremas, na Paraíba.

Roteiro. Mesmo com a pandemia do coronavírus, Bolsonaro voltou a fazer viagens pelo País, normalmente às quintas e sextas-feiras, e, ao menos uma vez por semana, tem escolhido uma cidade do Nordeste. As cerimônias de inauguração de obras pelo País têm sido vistas por seus adversários como agendas préeleitorais em um ano politicamente importante, com disputas para prefeituras e Câmaras de Vereadores em novembro.

"O presidente está fazendo duas viagens por semana e a tendência é manter o cronograma. Espero consolidar bem a base e que a agenda de reformas dê certo para terminar bem o governo", disse o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-pr), recusando-se a falar sobre 2022. "Não estou autorizado a falar sobre isso. Estão todos olhando para eleições municipais e 2022 está longe."

O time de articuladores políticos, porém, já está em ação para preparar a disputa. Na construção do projeto de 2022 estão, além de Fábio Faria, os ministros-generais Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e os chamados "tocadores de obras", como Rogério Marinho e o titular da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.

Faria e Marinho têm como ativo o fato de serem oriundos do Congresso e representantes do Nordeste. Ao ministro das Comunicações, por exemplo, é atribuído o feito de ter amenizado os conflitos diários do presidente com a imprensa e os demais poderes. Marinho, por sua vez, ajuda Bolsonaro a se aproximar dos Estados nordestinos com "entregas" de sua pasta.

Braga Netto assumiu o posto de "gerente da Esplanada" em março e é o pai do Pró-brasil, programa que aposta no investimento público para retomada econômica no pós-pandemia. Secretário de Assuntos Estratégicos (SAE), o almirante Flávio Rocha, por sua vez, é apontado como um dos auxiliares mais influentes no gabinete presidencial.

Ao grupo político se junta também Fábio Wajngarten, o secretário executivo do Ministério das Comunicações que continua com gabinete no segundo andar do Planalto. Wajngarten tem forte ligação com a colônia judaica, com os evangélicos e com o bispo licenciado da Igreja Universal, deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP).

'Popularidade'

"Minha crescente popularidade importuna adversários e grande parte da imprensa, que rotulam qualquer ação minha como eleitoreira. Se nada faço, sou omisso. Se faço, estou pensando em 2022."

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

BOLSONARISTAS

• 'Bolsonaro 2022'

O grupo possui quase 170 mil integrantes, mas os administradores avisam em uma postagem que a meta é chegar a 1 milhão.

• 'Bolsonaro presidente 2022'

São 106 mil integrantes no grupo, que reúne postagens contra figuras como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

• '#Fechado com o Bolsonaro 2022'

Participantes do grupo com 80 mil usuários garantem 'apoio total' e eleições sem 2º turno.