Título: Dificuldades na fala podem permanecer
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/02/2005, Internacional, p. A8

Médicos advertem para a possibilidade de pontífice ter que usar aparelho sonoro

ROMA - Ainda que o papa João Paulo II tenha respondido bem à traqueostomia, realizada na quinta-feira em Roma, médicos advertem que sua saúde inspira muitos cuidados, pelo histórico de doenças crônicas e pela idade avançada: 84 anos.

- A traqueostomia é um procedimento de baixo risco. A questão maior é o motivo pelo qual foi feita, é isso que vai determinar se o problema é sério ou não - ressaltou Thomas Edy, especialista em garganta, nariz e ouvido da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos.

Michael Gleeson, cirurgião de garganta e professor da escola de medicina Saint Thomas, em Londres, concorda que a fragilidade da saúde do pontífice, causada pelo mal de Parkinson, representa o verdadeiro risco.

- Ele pode ficar doente com muita facilidade por causa do Parkinson. Sua incapacidade de tossir o deixa ainda mais frágil - alerta.

O porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, contou que na manhã de ontem, quando despertou da cirurgia, João Paulo II pediu papel e escreveu, em tom de brincadeira: ''O que fizeram comigo?'' Depois, acrescentou seu lema religioso, em latim, ''Totus Tuus'' (totalmente teu), uma frase sobre sua devoção à Virgem Maria.

Enquanto o pontífice estiver vivo, é o único líder da Igreja Católica - que tem 1,1 bilhão de fiéis. A burocracia da Santa Sé pode funcionar sem ele, mas seus assessores não têm poder para tomar decisões importantes. Mas mesmo doente, João Paulo II deixou bem claro ontem, com a frase ''Totus Tuus'', que não pretende renunciar.

- Essas palavras são a confirmação de que sua entrega ao pontificado é total, que está nas mãos de Deus e que está disposto a continuar à frente da barca de Pedro - avaliaram fontes eclesiásticas.

Em outra mensagem escrita, o líder católico ressaltou a intenção de viajar à Alemanha em agosto, para participar da Jornada Mundial da Juventude. Ele pediu que este recado fosse transmitido pelo cardeal alemão Joachim Meisner, arcebispo de Colônia, aos organizadores da jornada.

Entretanto, médicos alertam para a possibilidade de que o homem conhecido como o maior comunicador da Igreja não possa falar por algum tempo. E quando puder, talvez precise da ajuda de um aparelho especial para poder formar sons.

Para o cardeal Mario Pompedda, a dificuldade de falar não importa.

- O papa apresenta uma dificuldade para falar que é puramente fonética. Não tem nenhum outro impedimento para expressar seus pensamentos - afirmou, mostrando-se convencido de que, se João Paulo II não puder falar, se expressará por escrito.

Ontem, cardeais, bispos e outros membros da Cúria Romana se reuniram na Capilla Redemtporis Mater para assistir às predicações da Quaresma. Nenhum deles se atreveu a dar um palpite sobre quando o pontífice volta ao Vaticano, mas todos concordaram que deve permanecer na Gemelli até que esteja totalmente curado.

Alguns asseguram que na última internação, no início do mês, Karol Wojtyla recebeu um alta com muita ''pressa'' e regressou à praça São Pedro antes de estar totalmente curado da gripe.

E enquanto João Paulo II não é liberado, chegam ao Vaticano milhares de mensagens com desejos de pronta recuperação. Muitos dos remetentes não são apenas líderes católicos, mas também judeus, islâmicos e ortodoxos, de todos os continentes.

''Que o Senhor dê ao papa a graça de continuar por longo tempo sua missão sagrada e eficaz a favor da Igreja e do mundo inteiro'', escreveu o patriarca ecumênico de Constantinopla (Turquia), Bartolomeu I, uma das maiores personalidades do mundo ortodoxo.