Correio braziliense, n. 21045, 06/01/2021. Brasil, p. 4

 

Itamaraty garante chegada da vacina

Bruna Lima 

Sarah Teófilo 

06/01/2021

 

 

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) garantiu, ontem, que não há proibição do governo indiano para que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) importe 2 milhões de doses prontas da vacina contra a covid-19 desenvolvida entre a Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca. As dúvidas sobre a vinda do produto para o Brasil surgiram depois de Adar Poonawalla, CEO do Instituto Serum, da Índia, onde as doses estão sendo fabricadas, afirmar que o governo local impediria exportações de vacinas contra a covid-19.

Cada dose custará ao governo brasileiro US$ 5,25, a um custo total de aproximadamente R$ 55,2 milhões pelo lote. Tanto o Itamaraty quanto a Fiocruz asseguraram que as vacinas devem chegar ainda este mês no Brasil.

Ainda não há, entretanto, um pedido de uso emergencial de qualquer dos fármacos já disponíveis no mercado internacional para fazer parte do Plano Nacional de Imunização. A Fiocruz disse, ontem, que aguarda o recebimento de informações da AstraZeneca e do Instituto Serum sobre a produção e o controle de qualidade da vacina para submeter o pedido de autorização de uso emergencial à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo a fundação, "a expectativa é de que o pedido seja realizado ainda esta semana".

Enquanto isso, outros países iniciaram a vacinação, incluindo Argentina e Chile. Ontem, o Brasil alcançou a marca de 197.732 mortes e 7.810.400 casos confirmados de covid-19, que voltaram a crescer depois das festividades de fim de ano.

Má interpretação
O temor de que a Índia poderia impedir a exportação das vacinas encomendadas pelo Brasil começou quando o CEO do Instituto Serum, Adar Poonawalla, deu a entender que o governo daquele país não permitiria a remessa do fármaco. O mal-estar, porém, começou a ser desfeito depois que ele publicou uma mensagem no Twitter afirmando que "as exportações de vacinas são permitidas para todos os países e um comunicado conjunto esclarecendo quaisquer mal-entendidos com relação à Bharat Biotech será feito". Pouco depois, uma nota de esclarecimento dizia que o Serum e o Bharat (laboratório indiano que produz outra vacina contra a covid-19) têm a intenção de "desenvolver, fabricar e fornecer as vacinas covid-19 para a Índia e globalmente".

Os ministérios da Saúde e das Relações Exteriores e a Fiocruz garantiram que as negociações com o Serum "encontram-se em estágio avançado, com provável data de entrega em meados de janeiro". Ontem, técnicos da fundação e da AstraZeneca reuniram-se com a cúpula da Anvisa para discutir o pedido de uso emergencial da vacina a ser trazida da Índia. No encontro, foi detalhado quais documentos precisam ser apresentados no momento da submissão.

Na última segunda-feira, o secretário-executivo da Saúde, Elcio Franco, reuniu-se com o embaixador da Índia em Brasília para tratar da importação. Segundo o Itamaraty e o Ministério, a embaixada em Nova Délhi "está em contato com autoridades indianas para reforçar a importância do início da vacinação no Brasil". A declaração de Poonawalla, levou a Fiocruz a alertar os ministérios para que buscassem uma solução diplomática para o caso.