Valor econômico, v. 21, n. 5182, 04/02/2021. Brasil, p. A8

 

Desmatamento ainda trava acordo com UE, diz Ybáñez

Gabriel Vasconcelos

04/02/2021

 

 

Embaixadores demonstram preocupação com o tema e com os impactos sobre o pacto entre Europa e Mercosul

O embaixador da União Europeia (UE) no Brasil, Ignacio Ybáñez, afirmou ontem que, “sem dúvida”, o desmatamento na Amazônia continua a ser o principal entrave ao comercial entre o Mercosul e o bloco europeu. A avaliação foi confirmada pelo embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos. Os diplomatas participaram juntos da Live do Valor.

“Acreditamos que não precisamos mudar [os termos] do acordo, mas, sim, temos áreas de particular preocupação pública, principalmente o tema do desmatamento, da Amazônia. Não vamos esconder de ninguém. Há uma preocupação dentro da Europa, na sociedade civil europeia, com relação ao desmatamento”, disse Ybáñez. Faro Ramos afirmou que os pedidos dos países europeus nesse sentido são “muito fortes” e colocados “de forma muito clara”.

Apesar dos atritos nos dois anos do governo de Jair Bolsonaro, Ybáñez afirmou que, finalmente agora, parece haver vontade política da parte brasileira para reconhecer e enfrentar o problema ambiental. Ele lembrou de encontro diplomático entre as partes em 14 de dezembro, quando os representantes da UE e do Mercosul fizeram declaração pública de que o acordo é positivo para ambos e que os dois blocos trabalhariam para resolver a problemática ambiental.

Em 26 de janeiro, relatou Ybáñez, houve uma espécie de continuação das conversas, e o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, teria tido conversa produtiva com o Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell. “Em nenhum momento Araújo negou o problema [na reunião]. Ele reconheceu que o Brasil precisa fazer mudanças nessa área. O mesmo tem acontecido com o vice-presidente [Hamilton] Mourão.”

Em coro, Faro Ramos disse que, para Portugal, o atual formato do acordo “está ótimo, avançado”. No início do ano, Portugal assumiu a presidência do Conselho da UE para mandato de seis meses, período no qual pautará as discussões entre os representantes dos Estados-membros. Nessa condição, disse Faro Ramos, o país empenhará esforços em fazer avançar o acordo, o que definiu como “responsabilidade” devido à posição de país amigo do Brasil.

Questionado diretamente se, na Europa, há uma impressão de que o governo brasileiro pouco faz para enfrentar o problema, Faro Ramos disse que “há, sim, essa impressão por parte de alguns Estados europeus, mas não de todos”.