Título: Embaixador sírio diz que saída do Líbano será lenta
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/02/2005, Internacional, p. A9

Mesmo com o anúncio da retirada das tropas sírias do Líbano, feito quinta-feira pelo vice-ministro de Assuntos Exteriores de Damasco, o embaixador da Síria no Brasil, Ali Diab, não acredita que seu país vá recuar ''sem que haja um pedido oficial do governo libanês''. Segundo o diplomata, a saída rápida dos 16 mil soldados ''poderia causar ao povo do Líbano a sensação de estar sendo abandonado pela Síria''.

- No dia em que o governo e as instituições libanesas pedirem a retirada, nosso governo atenderá à solicitação - disse Diab, acrescentando que as recentes declarações do presidente George Bush fazem parte de uma campanha contra o seu país, em função de Damasco não ter apoiado a invasão ao Iraque e estar alinhada com o Líbano, contra Israel, no conflito árabe-israelense.

As tropas sírias estão no país desde o fim da guerra civil libanesa, em 1976. A oposição à presença cresceu nas últimas semanas, após o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, em 14 de fevereiro. O ex-dirigente morreu em um atentado a bomba pelo qual a oposição libanesa responsabilizou o governo sírio, mas Damasco nega envolvimento.

- Hariri sempre foi um grande amigo do nosso povo e do governo, e um dos arquitetos do acordo de Taif em 1989, que possibilitou a reconstrução do Líbano - explicou Diab, referindo-se ao pacto que pôs fim à Guerra Civil (1976-1990).

O embaixador acrescentou, ainda, que as relações entre o ex-primeiro ministro, Damasco e Beirute foram estabelecidas quando Hariri ainda não tinha um cargo público e era empresário na Arábia Saudita.

O americano Bush e o presidente francês, Jacques Chirac, cobram o cumprimento imediato e completo da resolução 1559 do Conselho de Segurança da ONU, que exige a retirada das tropas estrangeiras do Líbano.

Mas, para Diab, a situação seria diferente se tivessem sido cumpridas outras resoluções anteriores da ONU, como a 242, de 1967, que condenou a anexação de territórios palestinos por meio da guerra e definiu a desocupação da Cisjordânia, da Faixa de Gaza e de Jerusalém Oriental, assim como da península do Sinai (Egito) e das colinas de Golã (Síria).

Há três meses em Brasília, Ali Diab comentou também a retomada do comércio entre o Brasil e o Oriente Médio. Ele acredita que os negócios entre as duas partes podem duplicar após a realização da cúpula dos chefes dos países árabes e sul-americanos, marcada para maio, no Rio.

- Somos um mercado de 300 milhões de consumidores - disse o embaixador.

Ele lembrou que as relações entre a Síria e o Brasil são tradicionais, antigas e concretas, mas estavam estagnadas nos últimos anos. E ganharam novo impulso após a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Damasco, em 2003.

Até o agora, o Brasil vem levando ampla vantagem no aumento dessas relações. As exportações brasileiras para a Síria foram de US$ 160 milhões de janeiro a dezembro de 2004, resultante da venda, principalmente, de açúcar, café, tratores, automóveis e fibras de raiom e viscose, usadas para fabricação de roupas, entre outras mercadorias. Já a Síria vende ao Brasil sementes de cominho, monofilamentos de plástico (para vassouras), sementes de anis, couros e gergelim (óleo e grãos).

Para o embaixador, a distância entre os países é compensada pela alta qualidade dos produtos brasileiros, custo mais baixo em comparação com o mercado asiático e mão-de-obra barata.