Título: Israel acusa Síria por atentado
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/02/2005, Internacional, p. A9

Forças de segurança israelenses e palestinas prendem na Cisjordânia suspeitos do ataque em boate de Tel Aviv

TEL AVIV - O ministro de Defesa de Israel, Shaul Mofaz, acusou ontem a Síria de estar envolvida no ataque suicida que matou quatro pessoas e feriu mais de 40, na sexta-feira à noite, na fila de uma boate em Tel Aviv.

- A Síria continua dando anistia a grupos terroristas e os incentiva a realizar ataques, que põem em risco o processo de paz com os palestinos e a estabilidade na região - afirmou Mofaz.

A declaração foi feita horas depois que a base em Damasco do grupo militante palestino Jihad Islâmica assumiu a autoria do atentado, mas Mofaz não anunciou retaliações contra a Síria ou a Jihad Islâmica.

No entanto, líderes da Jihad na Faixa de Gaza negaram qualquer participação na ação extremista, o que, segundo analistas, sugere uma divisão interna, já que autoridades da facção também no Líbano e na Cisjordânia confirmam a autoria. O racha estaria ocorrendo especialmente entre o círculo interno, baseado em Gaza, e a liderança externa, na Síria, que tem mais influência sobre as células extremistas na Cisjordânia.

Damasco também se defendeu, negando qualquer implicação com a explosão na boate.

- A Síria não tem nada a ver com esta operação e o escritório (da Jihad Islâmica) está cercado. As acusações do ministro israelense mostram que Tel Aviv conhece a verdadeira identidade do autor, que se encontra dentro de Israel. Os sionistas são conhecidos no mundo por sabotar todos os processos de paz - rebateu uma autoridade do ministério das Relações Exteriores, em Damasco.

Autoridades palestinas, por sua vez, acreditam que o grupo Hisbolá, baseado no Líbano, tenha orquestrado o ataque. Afirmam ter interceptado comunicações entre o militante do Hisbolá Kais Obeid e um palestino não-identificado.

A explosão interrompeu o cessar-fogo, acordado entre o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, e o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, no começo do mês. Abbas condenou o ataque em Tel Aviv e prometeu ''caçar'' os responsáveis.

- A ANP não vai ficar em silêncio diante deste ato de sabotagem - disse o sucessor de Yasser Arafat, depois de se reunir com chefes de segurança.

Em Damasco, uma autoridade da Jihad Islâmica confirmou que a intenção era exatamente frustrar o cessar-fogo e que o alvo da ação era a ANP.

- O acordo de período de calma com a ANP era de um mês e acabou - disse o homem, que se identificou como Abu Tareq. - Israel não obedeceu a trégua e esta é a razão principal para a operação.

O grupo também divulgou uma fita na qual o homem-bomba, identificado como Abdullah Badran, de 21 anos, explica que ''o motivo da explosão foi atacar o governo palestino, que age de acordo com os interesses dos Estados Unidos''.

- A ANP tem que dar os passos necessários e concretos para desmantelar a organização terrorista, deter armas ilegais e realizar prisões - disse à BBC o mais alto conselheiro de Sharon, Raanan Gissin.

Ontem de manhã, soldados israelenses invadiram a vila de Deir al Ghusun, a Norte da cidade de Tulkarem, na Cisjordânia, e prenderam dois irmãos de Badran. Também foi imposto toque de recolher.

Em uma operação separada, forças palestinas detiveram em Tulkarem dois homens suspeitos de estarem relacionados com o ataque - um deles seria da Jihad Islâmica, segundo testemunhas. Mas diferente do que admite a Jihad e acusa Israel, para a ANP o terrorista suicida era um membro das Brigadas dos Mártires de al Aqsa, recrutado pelo Hisbolá - apesar do grupo em Beirute negar a informação.