O globo, n. 31928, 05/01/2021. País, p. 5

 

Sem nome do MDB, Pacheco faz campanha “sozinho” no Senado

Natália Portinari

05/01/2021

 

 

Enquanto grupo rival não define candidato, senador do DEM iniciou visitas a colegas com Carlos Portinho (PL-RJ)

 Enquanto o MDB, maior bancada do Senado, não define o seu candidato, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) deu início a uma agenda de viagens em campanha pela presidência da Casa. O mineiro, nome apoiado pelo presidente Davi Alolumbre (DEM-AP), almoçou ontem com o senador Carlos Portinho (PL-RJ) em um sítio em Santana do Deserto (MG), na divisa com o Rio.

Nas próximas semanas, o senador do DEM deve viajar para outros estados. O itinerário ainda não foi definido. Segundo a assessoria de Pacheco, o encontro foi apenas “uma visita de cortesia”. “As possíveis tratativas com o PL serão feitas oportunamente com as presenças dos demais senadores da legenda”, afirmou, em nota.

Portinho, que assumiu em novembro após a morte do senador Arolde de Oliveira, trocou de partido, do PSD para o PL. Com isso, a bancada cresceu de dois para três senadores. Ele deve assumir a liderança da sigla e considera Pacheco como o candidato mais forte por enquanto:

— O MDB ainda tem quatro ou cinco candidatos e depois vai definir por um. Então acho que a candidatura que se apresenta mais sólida é a do Rodrigo, por essa construção que ele vem fazendo — disse o senador pelo Rio.

O APOIO DO PLANALTO

Já desde o ano passado, Davi Alcolumbre tem se dedicado a angariar apoios ao nome de Pacheco. Antes do Natal, o presidente do Senado levou o mineiro a um almoço com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Alcolumbre estuda fazer também viagens por conta própria para fortalecer as alianças em torno da candidatura de Pacheco. Após o fim de seu mandato, o atual presidente do Senado estuda aceitar um convite para ser ministro do governo Bolsonaro.

O apoio do Planalto a Pacheco, porém, não é uma costura simples porque três dos quatro potenciais candidatos do MDB ao comando do Senado têm boa relação com o presidente Bolsonaro. Eduardo Gomes (TO) é líder do governo no Congresso, enquanto Fernando Bezerra (PE) é líder do governo no Senado. Além deles, Eduardo Braga (AM) também goza de prestígio com o presidente. Recentemente, o presidente chamou os três emedebistas em uma cerimônia no Planalto de “trio maravilhoso”.

Além de Gomes, Bezerra e Braga, a senadora Simone Tebet (MS), de atuação mais independente em relação ao governo, é outra possível candidata do MDB à presidência.

O consenso no partido é que o nome que agregar mais apoios fora do MDB será oficializado na disputa. O partido deve fazer uma reunião para escolher o candidato, cuja data ainda não está prevista. A sigla tem atualmente 13 senadores, sendo a maior bancada.

Mesmo após a definição, Tebet pode se lançar como candidata avulsa, já que não pertence ao grupo de Braga e de Renan Calheiros (MDB). Apesar de ter pouco apoio interno, ela agrega votos fora do MDB. Presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ela é um nome forte entre parlamentares do grupo independente “Muda, Senado”, por exemplo, e tem aliados no PSDB.

O próprio “Muda, Senado”, de cerca de 20 senadores, ainda não definiu sua posição. O grupo, unido por pautas como o combate à corrupção e a defesa da Operação Lava Jato, manifestou o desejo de escolher em conjunto um candidato, mas está desarticulado no recesso. Seis integrantes deste bloco desejam disputar, ainda que nenhum deles seja apontado com chances reais.

A interlocutores, Pacheco diz contar com votos no PSD, PP, PL e PSDB como sua base para se eleger. Ele deve enfrentar dificuldades no PSD, porém, onde há alguns senadores que querem lançar uma candidatura própria. Otto Alencar (BA), líder do partido, é um deles.

Aliados de Alcolumbre estão otimistas com as articulações encabeçadas por Pacheco, já que ele está fazendo campanha praticamente sozinho.

Na semana passada, em uma conversa com os seis senadores do PT, Pacheco evitou se colocar como um nome alinhado com o Planalto. Mesmo tendo um bom diálogo com o governo por conta da intermediação de Alcolumbre, Pacheco vem modulando o discurso para ser aceito pela oposição. Na reunião, disse defender a democracia e os direitos humanos e não falou sobre Bolsonaro.

Ontem, o PT anunciou apoio a Baleia Rossi (MDB), nome apoiado por Rodrigo Maia (DEM-RJ), como candidato a presidente da Câmara. No final do ano passado, senadores do MDB tentaram impedir a candidatura de Baleia, prevendo que o partido teria dificuldade em ter o controle das duas Casas. A ideia dos emedebistas era que o DEM abandonasse a candidatura de Pacheco caso Baleia não concorresse, plano que acabou se inviabilizando.