O globo, n. 31928, 05/01/2021. Economia, p. 13
Recorde no campo
Henrique Gomes Batista
05/01/2021
Exportações devem superar US$ 100 bi este ano
Depois de um ano de preços e vendas em alta, o agronegócio brasileiro deve registrar novo recorde em 2021. O setor, que ajudou a minimizar o impacto da crise na economia brasileira, deve exportar US$ 112,9 bilhões, segundo projeção da MB Agro. Caso a previsão se confirme, será a segunda vez na história que a atividade superará a marca dos US$ 100 bilhões em vendas ao exterior. A primeira foi em 2018, comum total exportado de US $101,7 bilhões.
O dinamismo dose toré visível nas estatísticas. O agronegócio foi a única atividade a registrar crescimento nas exportações no ano passado e contribuiu para que abalança comercial encerrasse 2020 com saldo positivo. Os dados já divulgados do PIB confirmam este bom desempenho, mesmo em um cenário de crise. Até o terceiro trimestre, o setor acumula alta de 2,4%. Em a node pandemia, o agronegócio encerrou 2020 coma criação de vagas formais.
Os cálculos da MB Agro levam em conta a cadeia do agronegócio, o que inclui não só acolheita, como também produtos processados da agroindústria, como carne congelada, por exemplo. As estatísticas de exportações do Ministério da Economia consideram apenas a agropecuária, ou seja, os produtos in natura, e indicam um total de US$ 45 bilhões no ano passado. Mas, apesar das diferenças metodológicas, os dois apontam para a mesma direção, de avanço desta atividade, mesmo em um momento de turbulência na economia global.
QUANTIDADE E PREÇO
Para 2021, dois fatores explicam os prognósticos positivos: quantidade e preço. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) prevê colheita recorde de 265 milhões de toneladas de grãos na safra 2020/2021, uma alta de 3,5% sobre a anterior. Essa projeção representa um aumento de produtividade, poisa área plantada cresceu apenas 1,6%.
A alta da produção tem papel relevante, ma sé a elevação do preço de commodities, como soja e milho, a principal responsável pela estimativa de exportações recordes.
Um dos fatores que contribuem para o aumento da demanda por grão sé a retomada da produção chinesa de suínos. Após apeste suína africana de 2018, que comprometeu cerca de 20% do seu plantel, a China está ampliando a criação de porcos.
Os grãos são usados na alimentação dos animais.
A expectativa, porém, é que o recorde de exportações não se traduza em novo salto na inflação de alimentos como no ano passado, quando a escalada de preços foi de tal magnitude que alguns supermercados chegaram a restringir temporariamente a compra de unidades de alguns produtos. Isso em razão do fim do auxílio emergencial, que aumentou a demanda entre as famílias de renda mais baixa, e da perspectiva de um ano com menos sustos no câmbio.
—O produtor começa o ano com uma perspectiva muito boa. Os preços internacionais estão em patamares elevados e muitos produtores já venderam a próxima safra por valores, em dólar, muito maiores que a realizada em 2019/2020 —afirmou José Carlos O’ Farrill Vannini Hausknecht, sócio da MB Agro Consultoria. — Esse impacto tende a ser maior que o aumento da safra, que ainda pode sofrer com problemas de clima.
De fato, a própria Conab já reduziu sua previsão de safra, que antes estava em 268 milhões de toneladas. Além de estarmos em período de “La Niña”, quando ocorre um resfriamento das águas do Pacífico, alterando todo o clima na América do Sul, as secas maiores que o previsto no segundo semestre causaram atraso no plantio de soja. Este atraso também pode afetar a produção de milho.
O clima desta safra está pior e mais desafiador que na anterior e já compromete a produção de culturas perenes, como café e laranja, além da cana de açúcar. O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, atualmente coordenador do Centro de Agronegócio na Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), avalia que ainda é cedo para cravar que a produção de grãos baterá recorde.
Porém, além do clima, outro fator determinante no agronegócio em 2021 — e em toda a economia — será a evolução da pandemia. Uma piora no quadro antes que a vacinação em massa surta efeito pode estressar o mercado, que em meados de 2020 correu para formar estoques, por medo de desabastecimento.
— A pandemia trouxe de volta o fantasma do desabastecimento. Isso gerou debates protecionistas, mas, do lado brasileiro, foi uma surpresa positiva, pois estávamos com uma grande safra. Se a pandemia não for debelada no primeiro semestre, é muito provável que a demanda global por alimentos continue aquecida. Por outro lado, é possível que não tenhamos planos de auxílio tão grandes, que elevam a demanda por alimentos. Essa é a variável fundamental em 2021 — afirmou Rodrigues.
— A pandemia trouxe de volta o fantasma do desabastecimento. Isso gerou debates protecionistas, mas, do lado brasileiro, foi uma surpresa positiva, pois estávamos com uma grande safra. Se a pandemia não for debelada no primeiro semestre, é muito provável que a demanda global por alimentos continue aquecida. Por outro lado, é possível que não tenhamos planos de auxílio tão grandes, que elevam a demanda por alimentos. Essa é a variável fundamental em 2021 — afirmou Rodrigues.
Tarso Veloso, gerente da AgResource, em Chicago, nos EUA, afirma que a perspectiva de preços de commodities em alta segue por mais um ano, em razão da maior demanda global por causa da pandemia.
— O que acontece agora no mercado é uma demanda ainda crescente da China e de outros mercados e uma frustração de safra grande. Tivemos quebra de safra de trigo na Rússia, no ano passado em Iowa, Estados Unidos, e agora tivemos o pior início de safra de soja, na plantação, no Mato Grosso em 40 anos —disse.
Ele afirma que o agronegócio tende a viver em 2021 um novo risco: a questão ecológica. A imagem do país no setor pode afetar negócios:
— Empresas e governos vão usar o desmatamento da Amazônia para criar barreiras comerciais, fitossanitárias e tentar baixar os preços de produtos brasileiros —disse Veloso, lembrando que pode ser o argumento de governos protecionistas. —A postura do governo prejudica o agronegócio.