O globo, n. 31928, 05/01/2021. Economia, p. 14

 

Balança comercial fecha 2020 com saldo de US$ 51 bi

Gabriel Shinohara

05/01/2021

 

 

Em ano de atividade econômica fraca, importações recuam 9,7%, e exportações têm queda de 6,1%. Agronegócio representa mais de um quinto das vendas ao exterior. Governo e especialistas preveem retomada em 2021

 O impacto da pandemia no comércio global causou um superávit na balança comercial brasileira de US$ 51 bilhões em 2020, alta de 7% em relação ao ano anterior, quando o saldo foi de US$ 48 bilhões. O número foi influenciado pela queda nas importações. As exportações também caíram, mas em intensidade menor, o que levou ao resultado positivo.

De acordo com dados divulgados ontem pelo Ministério da Economia, as importações fecharam 2020 em US$ 158,9 bilhões, valor 9,7% menor do que 2019, quando foram de US$ 177,3 bilhões. Já as exportações tiveram queda menor, de 6,1%, e registraram total de US$ 209,9 bilhões contra US$ 225,4 bilhões em 2019.

A corrente de comércio, que é a soma de exportações e importações e mostra o nível de integração do país nas trocas globais, foi de US$ 368,9 bilhões. O resultado é 7,7% inferior aos US$ 402,7 bilhões registrados em 2019.

Desde o início da pandemia, as importações vêm registrando níveis historicamente baixos por conta da redução na atividade econômica global e nacional. Já as exportações se mantiveram em níveis parecidos com anos anteriores por conta, entre outros fatores, da valorização do dólar, que torna os produtos brasileiros mais baratos no exterior.

Lucas Ferraz, secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, avalia que o resultado do comércio brasileiro foi muito guiado pelo ritmo da recuperação das economias asiáticas, que têm mostrado uma retomada mais rápida. A China, por exemplo, registrou alta de 4,9% no PIB no terceiro trimestre.

— A forte resiliência das exportações brasileiras foi muito influenciada pelo ritmo de recuperação da região asiática, sobretudo a China —disse.

Para 2021, o cenário desenhado pelo Ministério da Economia é de recuperação. A previsão é de alta de 5,3% nas exportações, atingindo US$ 221,1 bilhões, e de 5,8% nas importações, que chegariam a US$ 168,1 bilhões.

SALDO PREVISTO DE US$ 53 BI

Se a projeção for concretizada, o saldo subiria para US$ 53 bilhões, alta de 3,9% ante 2020, e acorrente de comércio cresceria 5,5%, chegando a US$ 389,2 bilhões.

Na Austin Rating, a expectativa é que o saldo fique em US$ 56,1 bilhões em 2021. O economista-chefe da casa, Alex Agostini, explica que a projeção é que as exportações e as importações cresçam significativamente neste ano por contada recuperação mais forte de parceiros do Brasil, como EUA, China e Zona do Euro.

— A retomada econômica desses países deve estimularas exportações brasileiras, principalmente de commodities. Por isso estamos com número um pouco melhore achamos também que o real vai seguir desvalorizado frente ao dólar.

Na contramão dos dados gerais, o agronegócio foi o único setor a registrar crescimento nas exportações em 2020. As vendas para o exterior chegaram a US $45,3 bilhões, contra US $43 bino ano anterior.

As estatísticas de exportações do Ministério da Economia consideram apenas a agropecuária, ou seja, produtos in natura. Quando se leva em conta toda a cadeia do agronegócio — não só colheita, mas produtos processados —, o avanço das exportações seria maior, podendo chegara US$ 112,9 bilhões em 2021, segundo projeta a MB Agro.

O resultado positivo da agropecuária fez com que a participação do setor no total das exportações aumentasse. Em 2019, era de 19,1% e subi upara 21,6% no ano passado, ou seja, mais de um quinto do total. Entre os produtos que se destacaram, estão a soja, com alta de 10,5%, e o café não torrado, que teve crescimento de 9,6%.

Para Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, a agropecuária pode auxiliar no resultado da balança comercial em 2021, porque deve apresentar índices ainda melhores. No entanto, ela ressalta que o setor emprega pouca mão de obra e isso diminui seu efeito no crescimento:

—É uma característica que a produção agrária seja altamente mecanizada, então o potencial do setor de gerar empregos e ser um motor do crescimento é mais baixo.

Para o secretário de Comércio Exterior, as vendas no agronegócio devem continuarem alta, mas a recuperação econômica tende a equilibrar a participação de outros segmentos na pauta de exportações:

—Esse ganho relativo tende a voltar a uma situação de equilíbrio, em que a participação dos demais setores aumente, o que não significa que o setor agrícola vá perder.