O globo, n. 31929, 06/01/2021. Economia, p. 14

 

Para presidente, parte dos brasileiros não sabe fazer nada

Daniel Gullino

Cássia Almeida

João Sorima Neto

06/01/2021

 

 

Bolsonaro afirma que formação do trabalhador é um dos fatores para o desemprego elevado. Mais de 14 milhões buscam vaga

 O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que um dos motivos para o desemprego alto no país é que parte dos brasileiros “não está preparada para fazer quase nada”. Em conversa com apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada, ele criticou ainda o número de ações trabalhistas e afirmou que ser patrão no Brasil “é uma desgraça”.

— É um país difícil de trabalhar. Quando fala em desemprego, é alto por vários motivos. Um é a formação dos brasileiros. Uma parte considerável não está preparada para fazer quase nada. Nós importamos muitos serviços —disse Bolsonaro.

AÇÕES TRABALHISTAS

Bolsonaro estava acompanhado do ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), José Levi, que comentou a crítica feita pelo presidente ao número de ações trabalhistas. Ele lembrou um ponto da reforma trabalhista de 2017. Até então, se o trabalhador recorria à Justiça do Trabalho e perdia, não tinha gastos. A partir da reforma, passou a ter que arcar com as custas processuais em caso de derrota. Segundo Levi, isso diminuiu a quantidade de processos trabalhistas. Bolsonaro então acrescentou:

— O Brasil tinha mais ações trabalhistas que o mundo todo junto. Vá ser patrão num país desse. Ser patrão é uma desgraça.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), divulgada no fim do mês passado pelo IBGE, o índice de desemprego no Brasil superou 14% em outubro. Em números absolutos, 14,1 milhões de brasileiros estavam em busca de uma vaga.

Segundo especialistas, a tendência é que esse número cresça nos próximos meses, podendo chegar a 16%, porque mais pessoas passarão a buscar vagas por causa do fim do auxílio emergencial, criado para ajudar os trabalhadores informais a atravessarem a crise e que foi encerrado no dia 31 de dezembro. No segundo semestre de 2020, o governo chegou a tentar tirar do papel um projeto para ampliar o Bolsa Família, o que reduziria o efeito do fim do auxílio, mas a medida não avançou por falta de acordo político.

O programa criado pelo governo para permitir que empregadores e empregados firmem acordos de redução de jornada ou suspensão de contrato ajudou a frear demissões. A medida afetou 9,8 milhões de trabalhadores entre abril e dezembro, mas foi voltada apenas para trabalhadores com carteira assinada, que representam um terço da população ocupada no país, segundo os dados do IBGE.

Para os informais, a principal ação do governo foi o auxílio emergencial. Sem o benefício, a aposta da equipe econômica é na retomada da atividade econômica. O retorno desses trabalhadores às ruas, no entanto, depende de uma vacinação em massa, na avaliação do ministro da Economia, Paulo Guedes. O cronograma de imunização, no entanto, enfrenta incertezas. O uso de vacina contra o vírus é frequentemente criticado por Bolsonaro.

“É um país difícil de trabalhar. Quando fala em desemprego, é alto por vários motivos. Um é a formação dos brasileiros. Uma parte considerável não está preparada para fazer quase nada. Nós importamos muitos serviços”

Jair Bolsonaro, presidente