Título: Tucanos avançam sobre Lula
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 26/02/2005, País, p. A3

Parlamentares pedem abertura de processo e Fernando Henrique lamenta ''falta de controle verbal'' do presidente

BRASÍLIA - A sexta feira foi de tiroteio intenso entre petistas e tucanos. A repercussão das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou ter ocultado denúncias de corrupção ocorridas durante o governo Fernando Henrique Cardoso, resultou em troca de farpas, acusações e ameaças de lado a lado.

A reação tucana começou cedo. O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), protocolou na Mesa da Casa um pedido de abertura de processo contra Lula por crime de responsabilidade. A solicitação precisa ser analisada pelo presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE). No fim da tarde, FH reforçou a artilharia, em nota dura, bem acima do tom político que costuma adotar.

- Li com perplexidade e indignação as palavras proferidas pelo presidente Lula. Chocou-me ver um presidente fazer uma denúncia anônima e genérica - atacou Fernando Henrique.

O ex-presidente cobrou que Lula indique os fatos aos quais se referiu, apontando quem denunciou e quem foi denunciado, para que as investigações possam acontecer. Garantiu ainda que não tem qualquer interesse em encobrir fatos ocorridos durante os oito anos em que governou o país e não seria agora, quando não exerce mais função pública, que deixaria de se interessar pela apuração de eventuais desvios de conduta.

FH encerra a nota afirmando que, se tudo não tiver passado de um rompante diante das críticas que ele tem feito ao governo, lamenta ''a falta de controle verbal e espera a necessária retratação''.

- A palavra está com sua Excelência, o presidente Lula. Se calar, caberá ao Congresso exigir que a lei se cumpra - atacou.

Tanto na Câmara quanto no Senado, a tropa de choque tucana preparou munição pesada contra Lula e o chefe da Casa Civil, José Dirceu. O deputado Alberto Goldman pediu a abertura de processo contra o presidente, com base no regimento interno da Casa e na Lei que define os crimes de responsabilidade. No Senado, o líder Arthur Virgílio (PSDB-AM) foi à tribuna requerer um voto de censura a Lula pelas declarações dadas no Espírito Santo. Também pediu que o requerimento fosse encaminhado à Câmara, para garantir a abertura do processo por crime de responsabilidade.

- O tom e o conteúdo das afirmações do presidente da República deixaram estarrecida a nação, que sempre espera de seu dirigente maior sobriedade, firmeza e postura condizentes com a responsabilidade de seu cargo - cobrou Virgílio.

Os tucanos também querem explicações de José Dirceu, e poderão convocá-lo para comparecer no Senado. Pela manhã, Dirceu acusou o PSDB de tentar tumultuar o clima no país. Afirmou também que ''o feitiço pode virar contra o feiticeiro'' caso o PSDB queira realmente instalar uma CPI no Congresso para investigar as acusações. Goldman devolveu em tom crítico:

- A Casa Civil do Planalto já teve feiticeiros, como o chamado ''bruxo'' Golbery do Couto e Silva, a quem, a despeito dos serviços nada democráticos, não se pode imputar a mácula de abrigar um Waldomiro Diniz sob suas ordens.

O líder do PDT no Senado, Jefferson Peres (AM), chegou a insinuar que o presidente Lula poderia não estar sóbrio quando proferiu o discurso fatídico no Espírito Santo.

- Das duas, uma: ou o presidente disse a verdade e é um criminoso, ou não é verdade e, nesse caso, ele é um mentiroso - discursou.

Para o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), o Ministério Público precisa se pronunciar sobre o episódio, já que o crime de prevaricação ''está claríssimo''.

O ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros vai processar o ex-presidente na gestão petista, Carlos Lessa, que admitiu ter assumido a instituição em situação muito ruim, por conta do financiamento concedido pelo banco à empresa AES durante o processo de compra da Eletropaulo.