Título: Crise afeta turismo no Brasil
Autor: Leandro, Eloisa; Sáles, Felipe
Fonte: Jornal do Brasil, 17/10/2008, Tema do Dia, p. A2

A instabilidade do sistema financeiro internacional já causa turbulências no setor de turismo no Rio ¿ cidade brasileira que mais recebe turistas estrangeiros. A Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) já estima em "pelo menos 10%" a queda de visitantes estrangeiros e que o número de brasileiros que viajariam para o exterior será menor em 30%. Algumas agências no Rio não venderam nenhum pacote internacional desde o início da crise, enquanto outras tiveram pagamentos suspensos e prazos adiados. A esperança agora se volta para países vizinhos e para o mercado nacional, já aquecido em 30% ¿ embora, neste caso, a segurança pública do Rio provoque instabilidades ainda maiores do que os humores do mercado internacional.

¿ A crise não vai nos afetar; ela já está nos afetando ¿ afirmou o diretor de assuntos internacionais da Abav, Leonel Rossi. ¿ Temos uma crise inteira pela frente. Por um lado, a alta do dólar deixa o país mais barato, mas ninguém sabe se o turista virá, com tantos problemas para resolver em casa. O fluxo de turistas estrangeiros que teremos ainda é uma incógnita, mas acredito numa queda de pelo menos 10%.

A Embratur estima que cerca de 5 milhões de estrangeiros visitem o Brasil anualmente ¿ e que um em cada três passem pelo Rio, movimentando em torno de US$ 300 milhões por dia. A Embratur também estima que, de cada 100 turistas, 20 são dos Estados Unidos ¿ seguidos por Argentina e outros seis países europeus como Itália, Espanha e França. O pessimismo no setor se dissemina justamente porque o foco da crise atingiu o principal mercado do turismo brasileiro.

¿ Metade dos turistas norte-americanos que vêm ao Brasil é constituída de aposentados, justamente os mais atingidos com a queda das bolsas de valores ¿ refletiu Leonel. ¿ Há ainda o fator psicológico da crise: ninguém ainda sabe o tamanho dela. Esse sobe e desce das bolsas só assusta ainda mais os potenciais turistas.

Na Europa, vôos cancelados

A Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH) só terá a dimensão do impacto da crise no Rio a partir do fim deste mês, quando os hotéis fecham os pacotes da temporada. Mas os indícios não são nada animadores para a indústria hoteleira.

¿ Já temos notícias de empresas aéreas da Europa cancelando vôos para Rio e São Paulo ¿ contou o presidente da ABIH, Alfredo Lopes. ¿ Nossa aposta é que, com o dólar caro, o mercado nacional forneça a contrapartida.

Mercado este, porém, muito suscetível às notícias ¿ especialmente no caso do Rio, cuja fama, entre os compatriotas, é de uma cidade de violência desenfreada.

¿ O turista brasileiro, ao contrário do estrangeiro, é muito atento ao que é veiculado na mídia ¿ comentou o consultor em turismo Bayard Boiteux, diretor da Escola de Turismo e Hotelaria da UniverCidade. ¿ São Paulo e Minas Gerais são os Estados que mais enviam turistas ao Rio, e a percepção geral é muito negativa por conta da segurança. Esta semana, por exemplo, vimos na TV um tiroteio na Central do Brasil, em pleno Centro da cidade.

Pacotes reagendados

Mais do que o dólar alto, as agências de viagens vêm sofrendo com a incerteza do mercado internacional, já que as oscilações dificultam agendamentos de pacotes e programas. No ano passado, por exemplo, o dólar estava em torno de R$ 2 nesta época.

¿ O cliente vem à agência escolher um pacote e quando volta para fechar o negócio o dólar já subiu ¿ contou o presidente da Abav, Carlos Alberto Amorim Ferreira. ¿ Ele acaba pedindo para esperar mais um pouco, fica com receio. Só está viajando quem já estava com o pacote comprado, com o negócio fechado. O mercado não teve vendas novas.

A presidente da Embratur, Jeanine Pires, revelou ¿ durante visita ontem à Associação Comercial do Rio ¿ que a própria Organização Mundial de Turismo mudou a projeção de crescimento no fluxo de turistas depois da crise financeira internacional.

A projeção, que antes era de 2% a 3%, depois da crise foi reavaliada para 0,5% a 1%.

Jeanine ressaltou que os impactos da crise internacional no turismo só poderão ser avaliados definitivamente em janeiro. No ano passado, o país recebeu 4,9 milhões de turistas, movimentando em torno de US$ 5 bilhões.