Título: Brasil administra os primeiros sinais
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/10/2008, Opinião, p. A8
Os efeitos da crise mundial já começam a atingir o mundo econômico para além do mercado financeiro. A volatilidade das bolsas já não é o único sinal de que os reflexos da instabilidade internacional começam a se instalar no país. As previsões em relação ao consumo e à inflação mostram que há espaço para vulnerabilidade no sistema econômico brasileiro, mas que, em contrapartida, a cuidadosa atenção do governo federal permite o combate a este mal a tempo de evitar uma catástrofe econômica em nosso país, e semeia a confiança entre consumidores. Uma pesquisa realizada pela H2R Pesquisas Avançadas, entre 2 e 7 deste mês, revelou o otimismo da população brasileira em relação aos efeitos da crise. Entre os entrevistados, 89% sabem que o Brasil será afetado, sendo que 70% não enxergam um futuro com grande nebulosidade para a economia real brasileira.
O medo do retorno à inflação, uma das possíveis conseqüências da crise mundial em solo brasileiro, ganha fôlego com a notícia divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) de que o Índice Geral de Preços -10 (IGP-10) ¿ indicador que retrata a evolução dos preços por atacado ¿ registrou alta de 0,78% em outubro, invertendo a tendência de queda de 0,42% verificada no mês anterior. O resultado embute a influência que os preços de alguns insumos para a indústria já sofrem com os efeitos da alta do dólar, o que, numa visão mais pessimista, já seria suficiente para piorar os resultados dos índices inflacionários. Porém, a análise do economista da FGV, Salomão Quadros, rebate esse temor com a avaliação de que a influência do comportamento do dólar sobre os índices futuros acontecerá, mas será passageira.
Porém, o principal efeito da turbulência americana, a falta de liquidez com o conseqüente encurtamento do crédito, já paira em nossa economia muito antes do aprofundamento da crise, que ocorreu a partir da quebra do centenário banco Lehman Brothers, em 15 de setembro deste ano. O fato, na realidade, só intensificou os prognósticos estabelecidos muito antes entre especialistas. A Pesquisa Mensal do Comércio publicada ontem pelo Jornal do Brasil revela que os agentes econômicos já estavam preparados para a crise antes de setembro, como apontou o analista do IBGE, Nilo Lopes de Macedo, diante dos dados que mostram a crescente escalada de juros em cheques especiais, empréstimos pessoais, cartões de crédito e financiamentos para automóveis que já ocorriam em agosto deste ano. Desde então, verificou-se que setores cujas vendas são atreladas ao financiamento tiveram retração. Como o comportamento do varejo está menos suscetível ao crédito ¿ supermercados e lojas de alimentação ¿ ainda há registro de crescimento de vendas.
O contexto atual mostra claramente o quanto o Banco Central vem acertando com a utilização de instrumentos da política monetária para reduzir os efeitos da crise sobre o Brasil. A redução do dinheiro disponível para financiar a produção, a exportação e o consumo da população é, de fato, questão que obriga a intervenção da autoridade monetária, cabendo ao governo a preocupação em preservar os instrumentos necessários para que a engrenagem da economia nacional funcione a contento. A paralisação da relação equilibrada entre produção e consumo proporcionará um efeito potencialmente devastador sobre o país, necessitando, portanto, de uma ação institucional precisa.
Levantamento do Programa de Administração do Varejo (Provar) mostra que 73,8% dos consumidores pretendem adquirir um bem durável até o Natal. O resultado não deixa de ser fruto da adequada atuação do governo, mais as garantias chanceladas por vozes internacionais de que países emergentes gozam de maior imunidade contra os efeitos da crise mundial.