O globo, n. 31930, 07/01/2021. País, p. 4

 

Desconfiança mútua

Bruno Góes

Natália Portinari

07/01/2021

 

 

Possibilidade de votação remota na eleição cria cisão na Câmara

A possibilidade de votação virtual na eleição para a presidência da Câmara tornou-se outro assunto da disputa política da Câmara. Com o crescimento do número de casos e óbitos por Covid-19 no país, o atual presidente, Rodrigo Maia (DEMRJ), começou a pensar em realizar o processo por meio de um aplicativo móvel. Hoje, o aparelho já é usado por deputados em sessões remotas.

Ontem, o candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, Arthur Lira (PPAL), atacou a ideia. Aliados do parlamentar questionam a lisura de um possível processo virtual. Já o Grupo Baleia Rossi (MDB-SP) vê uma tentativa do adversário de engajar apoiadores nas redes sociais e revoltar a eleição.

"Nas eleições, 148 milhões de eleitores tinham a obrigação de ir às urnas e votar em meio à pandemia. Agora o prefeito Rodrigo Maia e sua candidata Baleia Rossi querem votar à distância na eleição para prefeito. é a real intenção por trás disso? ", escreveu Lira em uma rede social.

CORPO A CORPO

Apostando na dissidência no bloco liderado por Rossi, o candidato do PP tem no corpo a corpo com os colegas uma de suas principais estratégias, algo que pode ser minado. E também existe o cálculo de que os dissidentes podem se sentir inseguros para "trair" seus partidos.

Candidato do Planalto, Rossi tem entre seus trunfos a negociação de cargos no governo e a liberação de verbas orçamentárias para as bases eleitorais dos deputados. Essas conversas geralmente são feitas pessoalmente. Em votações importantes, é comum, por exemplo, ver emissários do Executivo na parte inferior do plenário com uma planilha de emendas parlamentares.

O nosso discurso público, porém, é para levantar suspeitas sobre a possibilidade de fraude, como afirma o vice-líder do PL, Marcelo Ramos (AM):

- Uma coisa são as pesquisas auditadas por todos os partidos e controladas por uma Justiça Eleitoral Independente. Outra coisa é um sistema que não é auditado. Ninguém pode garantir a inviolabilidade do voto.

Em dezembro, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), encaminhou documento à Maia. Ele questionou como será garantida a identidade do eleitor parlamentar, como será garantido o sigilo do voto e como garantir que o sistema não será atingido por hackers.

Ao globo, Maia disse que não há definição. Uma das preocupações com a ação de fevereiro é a participação de parlamentares idosos com comorbidades. Para esta legislatura, foram eleitos 95 deputados com mais de 60 anos.

A cada dois anos, o plenário da câmara é ocupado por cabines para a votação secreta que elege o Bureau do diretor. Na hora da escolha, grandes filas são formadas para que cada um marque o favorito. Este ano, estamos estudando a possibilidade de espalhar essas cabines pelo Salão Verde, um local maior, e assim evitar lotação.

Após o lançamento oficial de sua candidatura ontem, Baleia Rossi ironizou quando questionado sobre a preocupação de fraude por parte dos aliados de Lira:

- Factoid que não existe. Síndrome de Trump.

O tema da fraude eleitoral é recorrente entre os influenciadores bolsonaristas, seja para denunciar uma suposta conspiração contra o presidente americano Donald Trump, seja para questionar, sem provas, a urna eletrônica brasileira. Portanto, os aliados de Rossi identificam na empreitada uma forma de tumultuar a eleição.

O coordenador de campanha de Rossi, ISNALDO Bulhões (MDB-AL), disse que "o melhor" seria realizar a sessão presencialmente, mas afirmou que ainda não há decisão sobre o assunto.

O secretário de transparência da Câmara, deputado Roberto Lucena (can-SP), afirma que o assunto será tratado na próxima semana. O parlamentar tenta há alguns meses convencer os colegas a tornarem as sessões remotas permanentes. Sobre o caso específico da eleição, disse que é preciso esperar o consenso.

- Até hoje, concreto, é que vamos manter (o voto presencial). Na próxima semana, com todos os líderes, podemos tomar a decisão - disse.

EX-ESPOSA DA LIRA

O ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou ao Tribunal Distrital Federal processo no qual Jullyene Cristine Santos Lins, ex-mulher de Arthur Lira, o acusa de difamação e insulto. A decisão foi tomada em novembro, mas só foi divulgada ontem pelo colunista Guilherme Amado, da revista ÉPOCA.

Ainda há recurso da defesa pendente de análise e, por enquanto, o processo segue no STF. Jullyene disse ter sofrido danos em sua homenagem por causa de declaração dada por Lira à revista "Veja". Em entrevista, ela afirmou que o deputado acumulou fortuna recebendo propina. Em resposta, ele disse, "ela é uma vigarista profissional que quer extorquir dinheiro, inventando histórias. Meu espólio é o que está declarado no TSE".

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Na campanha da pandemia, Rossi lança pedindo 'vacina'

Bruno Góes

Natália Portinari

07/01/2021

 

 

Disputa tem formato diferente dos anos anteriores com reuniões virtuais, redes sociais, vídeos de campanha e foco em viagens

 O deputado Baleia Rossi (MDB-SP) lançou ontem oficialmente sua candidatura à presidência da Câmara, formalizando o apoio do maior bloco até agora, com 11 partidos, e com discurso voltado para a defesa da "vacina grátis para todos" . Ele sugeriu que o Congresso poderia até mesmo ser convocado já em janeiro para analisar a questão, se necessário.

—Sabemos que vamos superar esse momento de dificuldade, de dor. É por isso que todos nós, membros do parlamento, temos que nos unir para cobrar pela vacina universal, gratuita e para todos. Aliás, por sugestão de vários dirigentes, conversei com o presidente Rodrigo Maia para que, se necessário, convocássemos a Câmara e o Senado, para votar ainda este mês, uma medida urgente (referente às vacinas) - falou.

O evento não registrou aglomerações típicas de atos políticos em Brasília e contou com um vídeo produzido pela marquise Chico Mendez com o slogan da campanha: "Câmera Livre". Em destaque, a ajuda emergencial aprovada no ano passado e os trabalhos do Congresso sobre a pandemia.

Em reunião com lideranças antes do discurso, ficou decidido que era melhor que o atual prefeito, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não falasse no edital. A ideia não era vincular a candidatura de Baleia à disputa entre Maia e o presidente Jair Bolsonaro, como quer o rival Arthur Lira (PP-AL).

Whale afirmou que o Legislativo não pode se submeter ao governo, para que possa exercer sua função e fiscalizar o Executivo. O candidato defendeu a aliança com os partidos de centro e esquerda. Apesar do apoio declarado dos partidos, o nopt ou PDT compareceu ao lançamento.

A opção de lançar um vídeo de campanha é outra das novidades que a disputa em meio à pandemia trouxe. Em ações anteriores, era comum que desde dezembro os totens dos candidatos estivessem espalhados pela Casa, além da contratação de divulgadores para entregar folhetos com as propostas.

Mit também mudou o formato das conversas. As reuniões face a face continuam a acontecer, mas as reuniões virtuais se tornaram rotina. Os candidatos devem aumentar a programação de viagens para os estados para compensar a ausência de corpo a corpo.

A baleia deve ir amanhã para o Piauí e, no dia 11, para Santa Catarina. No dia seguinte ele deve embarcar para reuniões em Goiás e Ceará, onde poderá se reunir com o presidente Ciro Gomes e o senador CID Gomes, do PDT.

Lira, por sua vez, estará hoje em Rio Branco, onde será recebido para um almoço pelo governador Gladson Cameli (PP), e vai à noite para Porto Velho, onde jantará com deputados.

As duas campanhas também apostam que as redes sociais podem ter um papel inédito para influenciar os parlamentares. Lira e Rossi engrossaram as postagens no Twitter para alcançar públicos externos, mas também parlamentares.