Correio braziliense, n. 21048, 09/01/2021. Brasil, p. 5

 

Alertas no governo Bolsonaro subiram 82%

Simone Kafruni 

09/01/2021

 

 

Os alertas de desmatamento na Amazônia no acumulado dos dois primeiros anos do governo Bolsonaro foram, em média, 82% superiores à média dos registrados nos três anos anteriores. É o que indicam os dados compilados pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que apontam quase em tempo real onde estão ocorrendo derrubadas da mata a fim de orientar as ações de fiscalização.

De acordo com os alertas, a devastação alcançou 216 quilômetros quadrados (km²) em dezembro do ano passado, área 14% maior do que a verificada no mesmo mês de 2019. Em 2020, a derrubada de mata nativa atingiu um total de 8.426 km², segunda pior marca anual da série histórica, iniciada em 2015.

O índice do ano passado ficou abaixo apenas do recorde de 2019, quando 9.178 km² de florestas foram arrasados. Os dois anos do governo Bolsonaro consolidam o pior cenário de alertas na região amazônica –– a média dos três anos anteriores, de 2016 a 2018, foi de 4.845 km². Nos 24 meses sob o comando de Ricardo Salles no Ministério do Meio Ambiente (MMA), a média anual foi de 8.802 km², praticamente 82%.
"Bolsonaro tem dois anos de mandato e os dois piores anos de Deter ocorreram na gestão dele. As queimadas, tanto na Amazônia quanto no Pantanal, também cresceram por dois anos consecutivos. Não é coincidência, mas, sim, o resultado das políticas de destruição ambiental implementadas pelo atual governo", avaliou Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Estimativas
O Deter foi criado para monitorar e emitir alertas sobre o desmatamento, orientando a fiscalização. Seus números apresentam estimativas confiáveis sobre o ritmo de derrubada da floresta. Contudo, os alertas não são o índice oficial de desmatamento do país, o que é calculado pelo sistema Prodes, também do Inpe.

Conforme Edegar de Oliveira, diretor de Conservação e Restauração do WWF-Brasil, o número do Deter confirma os dados do Prodes, que são referentes ao período de agosto de 2019 a julho de 2020. "Estamos com desmatamento muito acima dos níveis aceitáveis porque as ações do governo federal não são suficientes para coibir a devastação", disse.

Segundo ele, além de serem resultado do desmonte da política de controle do governo e da não execução de recursos destinados ao monitoramento e ao combate do desmatamento, os dados revelam a baixa efetividade da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) implementada na Amazônia. Dezembro foi o sétimo mês da Operação Verde Brasil 2, na qual as Forças Armadas foram enviadas à região para combater as queimadas e crimes ambientais. "Podemos atingir um nível de degradação da Amazônia sem retorno, o que comprometeria toda a regulação climática, com perda da biodiversidade e impacto na produção agropecuária", explicou.