Título: Governo libera mais R$ 6 bi para áreas rural e imobiliária
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2008, Economia, p. A20
BNDES socorrerá construtoras com problemas de capital de giro
São Paulo
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, comunicaram ontem a liberação de mais recursos para o financiamento da safra 2008/2009, ajuda para o setor de construção civil e possibilidade dos bancos oficiais federais agirem mais agressivamente na concessão de crédito.
Na área rural, para onde o governo já direcionou R$ 7,5 bilhões através de liberações do depósito compulsório, agora também aumentará a porcentagem de recursos captados pela poupança rural para o financiamento de safra. Atualmente, 65% da captação têm essa destinação, e o governo pretende aumentar o percentual para 70%.
Esta medida, segundo Mantega pode injetar mais R$ 2,5 bilhões no financiamento da safra.
¿ Não há motivo para redução da safra 2008/2009, exceto por fatores fora do controle, como questões climáticas ou falta de crédito que não conseguimos detectar ¿ afirmou o ministro da Fazenda.
Para a área de construção, Mantega sinalizou medidas para injetar de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões para capital de giro. "[Esse financiamento] será via BNDES, que já apresentou uma proposta, ou da Caixa [Econômica Federal] através de participação acionária das construtores"", afirmou Mantega.
A ajuda para a safra deve ser oficializada ainda hoje. Para a área da construção, a proposta deve ser concluída em alguns dias.
Bancos oficiais
Ontem, a equipe econômica do governo realizou reuniões com os principais bancos oficiais, onde revisaram suas ações diante da crise, como por exemplo a compra de carteiras de financiamento de bancos médios e pequenos.
Segundo o presidente do Banco Centrqal, Henrique Meirelles, agora eles devem partir para o aumento da concessão de crédito.
¿ Os bancos oficiais estão se preparando para aumentar sua participação na concessão de crédito para capital de giro para as empresas, para pessoas físicas e consumo, e o BNDES para investimentos ¿ afirmou.
O presidente do BC também disse que há ainda "uma boa margem"" de depósitos compulsórios para ser liberada para bancos médios, caso seja necessário. O mesmo pode ser aplicado para o caso dos leilões de dólares com garantias para financiamento às exportações que começaram a ser feitos hoje.
Dificuldades setoriais
Diante da tendência de retração do crédito bancário para novas construções, construtoras e incorporadoras já começaram a rever os planos de lançamentos para 2008 e 2009. A CR2 Empreendimentos Imobiliários reduziu o volume de lançamentos previstos até o fim de 2008 a menos da metade, de R$ 1,2 bilhão para R$ 500 milhões. O diretor de Relações com Investidores da CR2, Rogério Furtado, disse que a decisão foi uma atitude defensiva da empresa diante das linhas de crédito mais curtas e escassas. A incorporadora Even reduziu de R$ 2,2 bilhões para R$ 1,8 bilhão os lançamentos no ano, enquanto a Inpar anunciou a venda de ativos no valor de R$ 200 milhões para alavancar recursos de capital de giro e crescimento. O valor de mercado da Rossi Residencial caiu R$ 719 milhões em setembro, segundo estudo da Economática, enquanto o valor de mercado da Cyrela encolheu R$ 352 milhões no mesmo mês.
A desaceleração do setor é palpável. Enquanto a alta nas vendas de imóveis este ano foi de cerca de 30% ¿ 9,9% só no segundo trimestre do ano, segundo o IBGE ¿, a previsão para 2009 é de 10%. Já em 2010, estima-se que o crescimento deve ficar entre 2% e 5%.
A reprogramação do andamento das obras e o adiamento de lançamentos deve segurar a demanda. As construtoras, no entanto, ainda citam a expansão do mercado imobiliário nacional na hora de explicar atrasos na entrega de empreendimentos. A profissional de comunicação Roberta Costa, 27 anos, conta que o apartamento que comprou da Cyrela no ano passado, no empreendimento Belle Époque, em Jacarepaguá, teve a entrega, prevista para acontecer agora em outubro, adiada para janeiro de 2009. Roberta recebeu uma carta da construtora no mês passado com a informação de que, com o boom do setor imobiliário, faltou material de construção, o que provocou o adiamento.
¿ Eu espero que, com a crise, a entrega não seja postergada ainda mais ¿ diz Roberta.