Título: Pressão por corte de ajuda militar
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 27/02/2005, Internacional, p. A12

Uma das maneiras de a comunidade internacional pressionar para que o governo do Nepal respeite os direitos humanos, aponta a Anistia Internacional, é cortar a ajuda militar, que sustenta as tropas da única monarquia hindu do mundo.

Os três maiores fornecedores e aliados tradicionais são os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a Índia. Na semana passada, os britânicos anunciaram a suspensão do pacote de US$ 2,5 milhões de ajuda para comprar veículos, equipamentos para vôo noturno e bombas. Os indianos também retiraram a doação de armas, caminhões e helicópteros. Os americanos, entretanto, apenas mantiveram o apelo para que o rei Gyanendra restaure a democracia.

- É uma posição discrepante. Os EUA querem promover a democracia no Oriente Médio, mas para o Nepal fecham os olhos - critica na Suécia a chefe do programa asiático da IDEA, Kadirgamar-Rajasingham Sakuntala.

Apesar de a Casa Branca ainda manter o auxílio, o rei nepalês pediu que Nova Délhi e Londres recomponham o pacote militar.

- Se a nossa agenda política não combina com a deles, que nos informem então quais são as suas prioridades. Eles estão nos dizendo que não devemos mais lutar contra o terrorismo, que devemos colocar nossa democracia em risco? - provocou Gyanendra.

Para o ministro de Finanças, Madhukar Shumsher, se os aliados não querem mais ajudar, o Nepal está pronto para caminhar sozinho, mobilizando recursos internos e utilizando-os de modo mais efetivo.

- Setenta por cento do nosso orçamento vem de dentro do país. O desafio agora é aumentá-lo para 80% ou 85% - afirmou Shumsher.

Mas o ministro não conta com um obstáculo: muito do dinheiro que circula pelo Nepal vem de organizações humanitárias, ativas devido aos nove anos de tensão armada. No entanto, desde a declaração do estado de emergência, em 1º de fevereiro, projetos que iriam ser implementados foram congelados.

- O tempo de ajudar o Nepal está acabando - conclui Irene Khan, secretária da Anistia Internacional para a Ásia. (S.M.)